• No ano passado, a tiragem combinada dos jornais diários americanos caíu para o mais baixo nível desde 1945: 35 milhões de exemplares durante a semana, 38 milhões ao domingo. (Em 1990, ambas ainda excediam 60 milhões de exemplares).
  • Acentuou-se também o declínio da receita publicitária, que em 2016 ficou por 18 mil milhões de dólares, ou seja, pouco mais de um terço dos 49 mil milhões arrecadados 10 anos antes. 
  • O número de jornalistas activos nos media americanos no fim de 2016 não é ainda conhecido, mas prevê-se que tenha continuado a decrescer. Em 2015 eram 41.400, o que representava uma quebra de 37 por cento em comparação com 2004, quando eram mais de 66.000.
  • O aumento de visitantes das edições digitais dos 50 maiores jornais é uma das raras revelações positivas: quase 12 milhões por mês no último trimestre do ano passado, ou seja, perto de quatro milhões de visitantes adicionais todos os meses, em comparação com o último trimestre de 2014. Como seria de esperar, este aumento de visitantes traduziu-se num aumento da receita publicitária das edições digitais, que em 2016 atingiu 29 por cento da receita total dos media. No ano anterior representara 25 por cento, e em 2011 andou pelos 17 por cento.
  • Ainda segundo dados do Pew Research Center, o número de visitantes mensais dos 36 órgãos exclusivamente digitais - os que não nasceram como edições impressas - monitorizados pela comScore (agência de contagem das audiências de órgãos digitais) aumentou 12 por cento no último trimestre de 2016 em comparação com o mesmo período do ano anterior, tendo atingido 23 milhões, ou seja, quase o dobro dos visitantes das edições digitais dos jornais impressos.          
  • A receita de publicidade colocada em aparelhos móveis (smartphones e tabletes), em todas as plataformas da net – e não apenas nos sites dos media - cresceu de 32 mil milhões de dólares em 2015 para 47 mil milhões em 2016, quando representou 65 por cento de toda a publicidade digital. Neste sector de publicidade colocada em aparelhos móveis, o Facebook detinha em 2016 uma posição hegemónica, com 44 por cento da receita. Todos os seus concorrentes ficaram abaixo dos 10 por cento. 
  • Finalmente, em Agosto deste ano, os americanos que se informavam principalmente através da net (“online news”, 43 por cento) quase igualavam o número dos que se mantinham informados principalmente pela TV (50 por cento). Ainda no princípio de 2016, este último grupo representava 57 por cento, enquanto o primeiro representava 38 por cento, ou seja, nesse período de 20 meses, a distância entre os dois grupos passou de 19 pontos percentuais para sete.
  • Embora o crescimento do público consumidor de “online news” – e o decréscimo do público consumidor de notícias pela TV – se tenha verificado em todos os grupos etários, os dois grupos onde a informação pela net conquistou maior audiência durante esse período foram os de mais de 65 anos, e os dos 50 aos 64 anos. Ambos esses grupos continuam, porém, muito abaixo dos dois grupos entre os 18 e os 49 anos, em percentagem de consumidores de “online news”, e muito acima desses grupos em percentagem de consumidores de notícias pela TV – por exemplo, 23 por cento para os que têem entre 18 e 29 anos, contra 82 por cento para os que têem mais do que 65 anos.       

 

As medidas de restruturação e de contenção de despesas anunciadas pelo grupo Time Inc. no princípio de Outubro, num montante combinado de 400 milhões de dólares, são emblemáticas dos tempos difíceis que os media tradicionais atravessam. A tiragem do navio almirante do grupo – a revista Time, fundada em 1923 por Henry Luce - vai sofrer uma redução progressiva de um terço, de mais de três milhões de exemplares para cerca de dois milhões, a partir de Janeiro.

 

A frequência de publicação de sete outras revistas do grupo também vai ser reduzida, incluindo a da Sports Illustrated, que passará de 38 edições este ano para 27 em 2018,e ada Fortune. Embora diminuam os custos de produção, essas medidas também afectarão negativamente a receita da publicidade, cujas tarifas terão que ser revistas para reflectir as correspondentes reduções de audiência. A Time Inc. aposta que o saldo será positivo. O tempo dirá. 

 

Também preocupante é a situação do Newseum, o museu consagrado à história do jornalismo americano, situado em Washington, na Pennsylvania Avenue, entre o Capitólio e a Casa Branca.

 

Lançado em 1997 pelo Freedom Forum, uma fundação criada seis anos antes por Al Neuharth - conhecido como o fundador do jornal USA Today - dedicada à defesa do First Amendment (primeira emenda à Constituição americana, que desde 1791 garante a liberdade de imprensa e de expressão), o Newseum teve a sua primeira sede em Rosslyn, um subúrbio de Washington. Mudou-se em 2008 para a sede actual, um edifício de nove andares construído para o efeito, com cerca de 60,000 m2, que ostenta na fachada uma placa de 25 metros com as 45 palavras do First Amendment.

 

O Newseum, que cobra 25 dólares por visitante adulto mas tem, apesar disso, mais de 800 mil visitantes anuais (não obstante concorrer na capital americana com mais de duas dezenas de museus grátis) tem acumulado défices anuais desde que ocupou as suas novas instalações. Com um orçamento anual de 61 milhões de dólares, o Newseum vive de doações de patrocinadores e do aluguer dos seus dois andares de espaço para eventos, receitas insuficientes para cobrir as despesas.

 

Infelizmente para o Newseum, o seu maior patrocinador - o Freedom Forum, que desde 1997 já custeou mais de 500 milhões de dólares das suas despesas – informou no fim de Outubro  que não pode manter o seu contributo ao nível habitual, equivalente a cerca de um terço do orçamento do museu. Os seus administradores estão presentemente a estudar meios de conter as despesas, tendo sido noticiado que, na impossibilidade de equilibrar as contas, o museu poderia ser forçado a vender o edifício.      

 

Da sucessão de más notícias acerca dos media americanos desde o verão, a mais alarmante, porém, é uma directiva de Dean Baquet, editor executivo do The New York Times, enviadaao corpo redactorial do jornal, em meados de Outubro. Nesse comunicado, Baquet proibe os “nossos jornalistas” de exprimir nas redes sociais “opiniões partidárias, promover pontos de vista políticos, apoiar candidatos, fazer comentários ofensivos ou fazer seja o que for que ponha em causa a reputação jornalística do The Times”.

 

A directiva diz também que os “nossos jornalistas” têm que evitar dar a impressão de “tomarem partido em questões que o The Times se esforça por abordar objectivamente”, e que as instruções “se aplicam a todos, em todos os departamentos da redacção, incluindo os não-envolvidos na cobertura do governo e da política”.

 

O comunicado esclarece que o objecto da política descrita são todas as participações dos “nossos jornalistas” nas redes sociais, e que embora eles possam pensar que as suas actividades no Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat ou qualquer outra, são “áreas privadas, separadas das vossas funções no The Times, tudo o que é posto online é em certa medida público. E tudo o que fazemos em público provavelmente acaba ligado ao The Times”.

 

A política de censura prévia dos jornalistas do The New York Times não é apenas chocante por provir do seu próprio editor executivo. Como apontado por William McGurn na edição de 16 de Outubro do The Wall Street Journal, essa política é contraditória com a defesa, pelo mesmo The New York Times, do direito de alguns jogadores da NFL (National Football League) a pôr um joelho em terra - em vez de se manterem direitos - como forma de protesto          

durante a execução do hino nacional, antes dos jogos.

 

Na esteira da crítica de Donald Trump a essa forma de protesto, por considerá-la desrespeitosa do hino e da bandeira nacional, o The New York Times num editorial de 24 de Setembro admoestou o Presidente por “sugerir que os jogadores abdicam do seu direito à liberdade de expressão quando vestem o uniforme” dos seus clubes.

 

Ao que parece, para o editor executivo do The New York Times, o direito à liberdade de expressão que o seu jornal defende no caso dos jogadores da NFL - mesmo quando fardados com as camisolas dos seus clubes, durante jogos em que representam os mesmos e para jogar nos quais são pagos por eles, na presença de milhares de adeptos que compraram bilhetes para assistir a um jogo e não a uma manifestação política - não é aplicável aos “seus” jornalistas, nem mesmo quando escrevem, não como empregados do The New York Times no exercício das suas funções, mas como simples cidadãos pensantes.

 

Um leitor do WSJ comentou que o “aspecto mais pernicioso (da política anunciada por Baquet) não consiste na supressão dos direitos (dos jornalistas), mas sim no encobrimento das suas tendências. (…) Se um repórter tem uma opinião tão forte sobre uma questão política, que sente necessidade de exprimi-la numa rede social, é importante para os seus leitores conhecer essa opinião. Silenciá-lo é tentar criar uma impressão de imparcialidade que não existe. Será que Baquet receia que as tendências dos jornalistas do NYT  se descubram?”         

          

A explicação proposta por McGurn no seu artigo é concordante com a desse leitor: a política do NYT contida na directiva de Baquet “parece alicerçada na premissa de que o jornal ficaria desacreditado se fosse permitido aos seus jornalistas serem mais honestos acerca do que realmente pensam.”

 

É possível. Mas custa a crer que Baquet não se tenha apercebido de que a reputação do The New York Times ficou infinitamente mais comprometida pela revelação da sua tentativa de amordaçamento dos “seus” jornalistas, do que ficaria pelo destape das suas ideias. Dificilmente constituiriam surpresa, porque é evidente para qualquer leitor medianamente observador, que seria mais difícil encontrar um jornalista conservador na redacção do NYT do que um urso polar ou um pinguim no deserto do Sahara.