Público: uma tradição manchada
O afastamento de Queiroz de Andrade foi decidido pela administração por considerar que este jornalista não cumpria os objetivos traçados para o segmento digital do “Público”. Decisão tomada “após um processo de reflexão ao longo das últimas semanas”, disse a administração. Nesse processo o diretor David Dinis ter-se-á oposto à saída de Diogo Queiroz de Andrade. É, no mínimo, curioso que a administração do “Público” tenha concretizado a demissão do diretor adjunto no dia em que o diretor D. Dinis estava fora do jornal, iniciando um período de duas semanas de férias.
David Dinis regressou de imediato ao jornal e, honrosamente, demitiu-se.
A administradora Cristina Soares confirmou que a saída de D. Queirós de Andrade foi feita “sem a concordância do diretor, mas não à sua revelia” e que administração não interferiu em matéria editorial. E sublinhou que a administração se limitou a “exercer um direito consagrado na lei de imprensa – o de nomear e de demitir o diretor, subdiretor e diretores adjuntos”. Ou seja, não foi cometida uma ilegalidade pela administração.
Mas foi abalado o prestigio do “Público”, resultante de ali existir, desde o início do jornal, uma sólida situação de independência da direção face à administração. Só em matéria editorial? Não, também na confiança entre ambos os órgãos. Se a administração tinha motivos para afastar Diogo Queirós de Andrade, então deveria ter demitido o diretor David Dinis e não desautorizá-lo publicamente. Nem tudo o que é legal é ético.
É verdade que a nomeação de Manuel de Carvalho como novo diretor do “Público” é positiva. Mas, por experiência própria, estou convencido de que este desagradável incidente jamais aconteceria com o saudoso eng. Belmiro de Azevedo na administração do jornal. Oxalá não sucedam mais “incidentes” que mancham a tradição notável legada por Belmiro.