Quando nos lembramos que passaram, nalguns casos, mais de 40 anos sobre alguns destes factos, é fácil admitir aquilo que Mário Mesquita ofereceu aos jornalistas do DN:  a possibilidade de novas abordagens na missão de informar e no simples acto de pensar enquanto repórteres e redactores. Era uma Redacção em mudança, mais jovem, grupo empenhado  em, como ele, fazer mais e sempre melhor, mesmo que se desenhassem tendências diferentes de olhar o futuro.

Mas Mesquita foi mais longe. Lançou o tabloide dominical e, quase contra todos, decidiu – e bem, como veio a provar-se –, pela adopção definitiva do formato, um anos depois, em Maio de 1984. O “broadsheet” passava a história, aliás, numa antecipação do seu desaparecimento e substituição pelo ”berliner”…

Entre as decisões importantes relacionadas com aquilo que deve ser um jornal de referência está a novidade da criação em Portugal de um Gabinete Editorialista. Foi mais um passo arrojado e marcante da passagem de Mário Mesquite pelo DN e, no fundo, da sua ideia do Jornal. A partir de Abril de 1980, havia dois editoriais diários, não assinados, propostos por consenso dos membros do gabinete. O seu jornal tinha voz, uma posição, naquilo que de mais importante se passava por cá e no mundo!

Haveria muito mais para dizer sobre este processo quase contínuo de mudança que Mário Mesquita imprimiu ao DN. E que incomodou muita gente, até no PS, do qual - importa lembrar - era fundador e representou, como deputado, na Constituinte.

O jornalista prevaleceu sempre sobre o mais e ele até teve ocasião de o deixar claro num editorial partilhado com Dinis de Abreu, quando alguém do PS se atreveu a propor a substituição da direçção do DN, e no qual se denunciava o “manobrismo de bastidores” impróprio do momento democrático. E impõe-se recordar uma frase que deixava tudo claro: “O DN é do Estado, não é dos governos”.

Em Outubro de 1985, Mário Mesquita anunciou que abandonaria o Diário de Notícias. Fazia-o por vontade própria, não partia vencido, mas dez anos bastavam. Na despedida, em 28 de Fevereiro de 1986, escreveu: “Creio que por aqui, no DN, a honestidade foi desejada – e impôs-se. A minha esperança é que deixe rasto e se prolongue no futuro. Sem jornalismo escrito competente, exigente e honesto, a democracia será sempre incompleta e insuficiente. E sem o DN, ou com um DN servil e subjugado, a Imprensa portuguesa ficaria, irremediavelmente, mais pobre. Isso não sucederá. não pode suceder”.


Como sabemos, nem tudo foi de encontro aos desejos de Mário Mesquita. Mas aqueles que trabalharam sob a sua direcção e que gostaram e gostarão sempre do DN, não o podem esquecer nem desligar de uma fase decisiva na história e credibilização do “velho” matutino.

Pela minha parte, ao Mário Mesquita devo um sentido obrigado.  Dele guardarei – como outros da minha escola –, a recordação de um professor competente, daqueles que nunca esquecemos, um grande professor antes de o ser, na brilhante carreira académica que protagonizou ao serviço do jornalismo.