Convirá insistir que se trata de um edifício classificado como Imóvel de Interesse Público e Prémio Valmor, concebido para ser a Casa do Diário de Noticias, saído em 1940 do Bairro Alto, onde deixou apenas o nome numa rua.

Convirá recordar, também, não ser esta a primeira tentativa de vender o edifício, aproveitando a voracidade da especulação imobiliária que se apossou de zonas nobres de Lisboa.

Houve, porém, em iniciativas anteriores uma resposta consistente, quer da redacção do DN, quer da sociedade civil, neste caso, através de uma petição assinada por numerosas personalidades  – entre as quais figurava Maria Barroso, mãe do actual ministro da Cultura, João Soares -   que obrigaram  os promotores do negócio a recuarem nos seus intentos.

Desta vez, porém, a par do comportamento silencioso (indiferente?), da direcção editorial e dos jornalistas daquele matutino, observa-se uma alarmante passividade de quem tinha o estrito dever de não ficar calado, tanto da parte da comunidade cultural, como da jornalística.

Embora a formalização do negócio ainda esteja pendente de autorizações legais, a cargo da Direcção-Geral do Património Cultural, a administração da Global Media mostra-se já suficientemente confiante para fazer declarações à Lusa, com as quais exprimiu satisfação pela opção feita das Torres Lisboa, admitindo que a mudança se faça “antes do fim do ano”.

Um escândalo, portanto, que estará a ser, eventualmente, consentido pela CML e pelo Ministério da Cultura.

O desalojamento do Diário de Noticias do seu edifício-sede da Avenida da Liberdade envergonha a cidadania.

Podem prometer preservar a fachada intacta, ou mesmo o lettering do cabeçalho do jornal, como cosmética para encobrir ou amenizar o verdadeiro rosto do negócio.

O que está em causa é a alteração radical da finalidade do edifício, que, se for por diante, será o definhar anunciado de um jornal, cuja história guarda muita da História do País.  

Será uma memória atraiçoada. E um jornal que perderá a Casa. E a Alma.