Escasseiam  os jornais que ainda se dão à maçada de promover a reportagem - e é justo reconhecer que os gestores das empresas editoras também agradecem e até estimulam essa atitude preguiçosa.

 

A uniformização da Imprensa torna-se, por isso inevitável, e quando se comparam as capas não se notam grandes diferenças. As excepções são, contudo, recompensadas.

 

Choca ver jornais de referência, alguns com história, que mergulharam a pique e sobrevivem hoje em estado de aflição, agonizantes, com tiragens residuais, sem influência, mas ainda dominados pelo umbigo .

 

A visão paroquial que impera numa faixa considerável da Imprensa portuguesa afasta leitores. A “tabloidização” faz o resto e já contagiou as televisões, que transformaram os blocos noticiosos principais numa espécie de reality show. É a informação-espectáculo.

Reforça-se a tendência de queda na circulação paga comparativamente com o ano anterior, comum a toda a Imprensa.  Nos jornais diários, a circulação paga recuou, em média. 7,6%. Di-lo  a APCT. E mesmo no campo dos newsmagazine a situação não é mais risonha. Em contrapartida, as assinatura digitais começaram a ganhar algum alento após um período de indefinição.

Em surdina, desenha-se a possibilidade de jornais generalistas optarem por versões digitais mais “musculadas”, limitando-se a  publicar edições impressas apenas ao fim de semana.

Os modelos económicos estão a mudar muito rapidamente. Não é por acaso que no interior de importantes grupos editoriais, como no Le Monde e Le Figaro,  se esbocem estratégias para o dia seguinte, em lugar de projectos longamente amadurecidos. E pedem às suas equipas editoriais para estudarem novidades aplicáveis a curto prazo. É o que os americanos chamam o «test & learn» , que começou a ser adoptado na Europa.

Perante o arsenal de modelos híbridos de informação e da “robotização” do jornalismo, ameaçando-o com o  consumo voraz e descartável, é urgente encontrar resposta suficientemente célere e criativa para não deixar morrer a Imprensa às mãos de plataformas tecnológicas poderosas ou de redes sociais que desvirtuam o produto editorial.

Infelizmente, em Portugal pensa-se de menos, improvisa-se demais a reboque dos sinais de alarme, e lê-se pouco sobre o que está a acontecer. Há um fechamento à realidade, como se esta fosse imutável. E não é.  A Imprensa não pode ficar sequestrada.