Os desafios à liberdade de Imprensa
Ao contrário da passividade reinante em Portugal , a efeméride foi aproveitada em Espanha pelas principais associações, representativas dos jornais e jornalistas, para manifestarem a sua apreensão relativamente ao presente e ao futuro .
Foi o caso da FAPE - Federación de Asociaciones de Periodistas de España, que viu na recente campanha eleitoral uma demonstração de que liberdade de Imprensa “continua ameaçada” e lamentou a “lei da mordaça” que se “uniu ao discurso do ódio contra os jornalistas e os media”.
Pior: “a extrema polarização da política catalã impediu o livre exercício do jornalismo naquela região autonómica” a ponto de “converter os jornalistas nas principais vitimas, com insultos e agressões nalguns casos”.
De facto, a repressão sobre os jornalistas agravou-se significativamente na última década , desde a Turquia à Venezuela , contagiando várias países em diferentes latitudes.
A organização Repórteres sem Fronteiras concluiu mesmo que apenas 9% da população mundial vive em países onde a situação da liberdade de imprensa é considerada boa ou muito boa.
De facto, no ranking mundial publicado há dias, verifica-se que a liberdade de imprensa é considerada difícil ou muito grave, ou seja, “amplamente reprimida”, tanto na China, Rússia, ou Arábia Saudita, como em democracias como o México ou a Índia, incluindo países onde a situação é classificada como problemática, casos da Mauritânia ou da Hungria.
Instaurou-se a “mecânica do medo”, como a definem os RSF, ao contabilizarem a lista negra de jornalista assassinados ou detidos de forma arbitrária. Um balanço sinistro.
O panorama é assustador e não dá sinais de recuar. Por cá, a fragilidade do mercado de Imprensa associada à “tabloidização” das televisões, generalistas ou temáticas, não augura também um futuro promissor, embora estejamos bem longe das condições dramáticas de exercício da profissão que perseguem e neutralizam muitos jornalistas pelo mundo.
A precariedade laboral acaba por condicionar o trabalho dos jornalistas, privados de meios de investigação e submetidos a agendas politicas, que os querem reduzir ao pepel de “pé de microfone”.
Depois, a evolução tecnológica e a desinformação trouxeram novos desafios. E novos pessimismos.
Bem pode o Papa Francisco pregar na sua nota alusiva ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa que “precisamos de um jornalismo que seja livre, ao serviço da verdade, da justiça e da bondade; um jornalismo que ajude a construir uma cultura de encontro”.
É um ideal antigo. Mas, infelizmente, há mais desencontros do que encontros. E não se pode pedir ao jornalista que some a vocação de martírio à profissão de fé.