Neste caso, porém, não se trata do resultado de uma investigação jornalística, mas tão somente de um pretenso texto de opinião, atribuído a um alto responsável da Administração, que supostamente denuncia um movimento de resistência instalado na Casa Branca contra o Presidente Trump.

Por mais que o jornal sustente a aceitação do anonimato, considerando-o incomum e raro no seu historial, o certo é que violou grosseiramente a boa prática deontológica.

A “linha vermelha” da ética editorial foi claramente ultrapassada, por muito que o NYT alegue em sua defesa que “a publicação deste texto anónimo é a única forma de darmos esta perspectiva importante aos nossos leitores”.

O NYT prestou um mau serviço ao jornalismo americano, e é natural,  por isso,  que profissionais  e analistas dos media estejam divididos, perante a controversa iniciativa, que ocorreu quase em simultâneo com o lançamento do  livro de Bob Woodward sobre a Administração Trump,  que, segundo The Washington Post, citado pelo Público, “traça o retrato de um Presidente inculto, colérico e paranoico, cujos secretários e conselheiros se esforçam permanentemente por controlar para evitar os piores desaires”.

 

A “guerra” entre a grande Imprensa norte-americana e Trump -  em particular entre os jornais que são assumidamente identificados com o Partido Democrata, como é o caso do NYT -, está a assumir contornos inesperados e de consequências imprevisíveis para a sua reputação e credibilidade.

Escreveu-se nesta coluna que a reacção dos jornais, em defesa do jornalismo independente e livre, foi um poderoso “grito de alma”.


Porém, o gesto do NYT pode deitar tudo a perder. Como então concluímos, a morte do jornalismo será a morte da democracia como a conhecemos.

E é isso que está em causa, num cenário preocupante, com ramificações conhecidas no continente americano, na Europa ou na Ásia, onde emergem movimentos populistas e líderes de inspiração totalitária, desejosos de sufocar a liberdade de Imprensa e de expressão, seja a pretexto da segurança do Estado ou de outro pretexto qualquer. O NYT deu “um tiro no pé”.