Estávamos ainda na era marcelista, um sucedâneo “descafeinado” do salazarismo. As “Conversas em Família” de Marcelo Caetano na RTP, feitas num tom coloquial, talvez tenham inspirado mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa, quando passou a articular a sua carreira académica com a de comentador político, abrangendo os diferentes meios, na Imprensa, na Rádio e, por fim, na Televisão.

Quando apareceu, o “Expresso” era inovador e desassombrado, por vezes, em desafio aberto à censura oficial, que Caetano não extinguira, mantendo-a como apertado o crivo pelo qual passava a Imprensa.

Por isso, o jornal de Balsemão foi um dos alvos dos censores, que não lhe perdoaram certos “atrevimentos”, tanto no plano noticioso como, principalmente, na área de opinião, na qual pontificavam colunistas opositores do regime e que não se conformavam, obviamente, com as restrições à liberdade de Imprensa.

Esse confronto desigual, trouxe sérios “amargos de boca” ao “Expresso” que teria sucumbido,  muito provavelmente, à tenaz censória, se não fosse o 25 de Abril.

Balsemão passou um mau bocado, mas resistiu, viciado como estava na Imprensa, onde iniciara o seu percurso profissional, pelo extinto vespertino “Diário Popular”, cuja maioria do capital pertencia à família.

O seu gosto pelos media e pelo jornalismo, que desabrochou nessa altura, manteve-se intacto até hoje, concentrado  num Grupo de referência.

São poucos os títulos com a longevidade do “Expresso”. E entre os mais antigos, a maioria perdeu influência, com tiragens e circulação residuais.

É certo que a Imprensa foi atingida, em cheio, pela concorrência da Internet, e nesta, pelas versões digitais e, em particular, pelas redes sociais, que atraíram e atraem o público mais jovem e a publicidade.

Por isso, os jornais não perderam apenas audiência. Perderam alma e, também, boa parte da publicidade, encaminhada para outros meios.

A pandemia veio encontrar a Imprensa em geral e, sobretudo, a portuguesa, já num estado de grande anemia. Não admira, pois, que tenham fechado jornais e que outros sobrevivam com muitas incertezas em relação ao futuro próximo.

As novas gerações lêem cada vez menos e frequentam cada vez mais as redes sociais, nas quais são assíduos e  se informam.

Oxalá que o “Expresso” ao celebrar o passado saiba acautelar o futuro, fiel ao lema do seu fundador num polémico livro, lançado em 1971, cujo título dizia tudo - “Informar ou depender “.

A independência do jornalismo não pode fraquejar.