O JN, o DN e a crise da Imprensa
Os trabalhadores do Jornal de Noticias do Porto estiveram em greve durante dois dias, como “forma de protesto contra um eventual despedimento colectivo de cerca de 150 trabalhadores” no Global Media Group, no qual se integra o jornal.
A notícia, mesmo lida a seco, arrepia, por se referir a um Grupo editorial, que, após várias andanças e atribulações, ainda é um dos. principais na paisagem mediática portuguesa.
Longe vai o tempo em que este Grupo era liderado pelo Diário de Noticias, jornal centenário que começou por ficar privado do seu edifício histórico na Avenida de Liberdade, concebido de raiz para ser a sua sede - e descaracterizado para receber habitações de luxo -, realojado depois em espaços alugados na Torres de Lisboa, de utilização mista.
Esse abandono do edifico sede do DN foi apenas o preâmbulo de uma decadência acelerada, que transformou o jornal numa publicação com humilhante circulação residual.
O JN conheceu, entretanto, um processo semelhante ao ser desapossado, também, da sua sede histórica no centro do Porto. E, embora as suas tiragens tenham baixado muito, ainda dispõe de uma circulação aceitável, ou seja, de um mínimo de leitores para ser ainda um órgão credível a Norte.
Claro que nada disto acontece por acaso, e nem sequer poderá ser visto como surpreendente, quando se sabe que há grupos empresariais nos media que têm vindo a ser pretexto para transações cruzadas, que os colocam na dependência de gente que
nada sabe de media, mas que foi atraída pelos seus activos imobiliários ou pela sua instrumentalização politica em beneficio de interesses próprios.
Consumado o desvirtuamento de projectos jornalísticos, com passado e que prometiam ter futuro, os novos donos desses jornais – ou, num espectro mais alargado, abrangendo publicações especializadas e rádio – mais não ambicionam do que emagrecer, dramaticamente, os quadros redactoriais , mascarando a iniciativa de reestruturações, para equilibrar as contas e compensar financeiramente a sua gestão desastrosa.
Infelizmente, os casos do JN e do DN não vão ser únicos e espelham a degradação da Imprensa, vítima do “assalto” de quem preza mais o cifrão dos negócios do que a valorização de títulos, quando a democracia pós 25 de Abril se apresta para celebrar meio século. E a democracia constrói-se com os media e a liberdade de expressão. Sem media independentes e influentes, a democracia agoniza.
Nas crises há sempre quem lucre. Mas, definitivamente, não é o caso do Jornalismo.