Não é a primeira vez que renasce a tentação de alienar o edifício. Mas não faltaram também  as muitas as vozes que se ergueram contra essa possibilidade, gerando  um movimento  de opinião que fez recuar a administração do jornal e pôr de parte a ideia. Agora, nota-se  uma indiferença cúmplice. 

Trata-se de um edifício construído de raiz para albergar o Diário de Noticias,   projectado por Pardal Monteiro,  inaugurado  em Abril de 1940 , detentor de um Prémio Valmor e  classificado como Imóvel de Interesse Público. Ao que parece, de pouco adianta.

A troco de 20 ou 25 milhões de euros, conforme tem sido divulgado,  a administração da empresa prepara, em sigilo,  a venda do activo -  como se diz no jargão dos gestores -, manda a história  às malvas, e, de acordo com o Observador, procura uma alternativa em Lisboa para  “albergar os meios do grupo”, já com mudança prevista para Outubro próximo.

Portanto, há pressa em queimar etapas, apesar da mesma noticia referir  que a decisão está  pendente  de “autorizações de legais a cargo da Direção-Geral do Património Cultural”.  Provavelmente, ninguém prevê ou teme um parecer negativo.

Se as diligências forem bem sucedidas, estaremos confrontados com um acto grave e lesivo de um edifício emblemático,  único da cidade,  desviado para fins que desvirtuam completamente a sua vocação matricial  e histórica, o  que  não pode ser validado pelo Ministério da Cultura, a menos que se demita das suas responsabilidades.

A Cidade, a Cultura e o Jornalismo não podem assistir, resignados,  à destruição da memória , em nome de um oportunismo imobiliário.  

O Diário de Noticias -  que ainda dá o nome a uma rua do Bairro Alto -,  não pode, aos 150 anos,  trespassar a casa para um hotel de charme. Depois de perder tiragens, arrisca-se a perder a alma.

 

E os poderes públicos, calam-se e assinam de cruz?