O grande desafio de Balsemão
Nunca sentiu queda para a Rádio, apesar das oportunidades que teve, mas, em contrapartida, percebeu, desde muito cedo, a importância da Internet, apostando nesse futuro digital, a começar pela edição do Expresso online, o jornal diário que nunca teve em versão impressa.
Foi capaz de vencer adversários poderosos, incluindo um “infiltrado”, que, um dia, quis tomar-lhe conta do Grupo, financiado pelo BES , de Ricardo Salgado.
Já nessa altura o conglomerado de empresas experimentava dificuldades, interpretadas e exploradas pela Ongoing – uma ficção criada à sombra do BES - como uma soberana oportunidade para apear Balsemão e controlar o Grupo.
Perante o desafio, Balsemão viu-se forçado a sair do conforto e a arregaçar as mangas, assumindo medidas de contingência para afastar a Ongoing do perímetro da Impresa.
Fez um pleno ganhador, nessa roleta posta em movimento por quem menos esperava e teve, mais tarde, a “recompensa” de assistir à falência da Ongoing e do seu grupo editorial de “pés de barro”.
O Grupo Balsemão, como é mais conhecido, não logrou vencer, contudo, nem a mudança de paradigma mediático - com a forte migração de leitores do papel para a net -, nem a estrutura familiar que está na sua génese.
São vários e importantes os Grupos empresariais portugueses de estrutura familiar. Desde a Sonae, de Belmiro de Azevedo, a Jerónimo Martins, aos Mellos ou Amorim.
Na curva da vida, cada um procurou – ou procura - encontrar soluções entre os sucessores preparados para “reinar” ou entre gestores profissionais que assegurem a continuidade.
Houve quem fosse bem sucedido e encare a sua finitude com a casa arrumada e relativa tranquilidade.
Mas o destino pregou uma partida a Francisco Balsemão, que moldou um verdadeiro império de media, mas que se vê hoje obrigado a vender publicações ao desbarato para salvar o emblemático Expresso e a SIC aniversariante.
A vida não está fácil para as empresas jornalísticas, que, além de erros próprios, estão a ser fustigadas pelas grandes plataformas digitais, como a Google , Facebook ou a Amazon, cativando a nível global as melhores receitas de publicidade, deixando as sobras para os editores, que não bastam para a sua sobrevivência.
Balsemão é um homem informado. Mas carece de uma equipa à sua volta capaz de antecipar o futuro .
A Imprensa está fragilizada. Com excepção de dois ou três títulos, as tiragens dos jornais são irrisórias. Depois, a migração para o digital está a fazer-se com muitas hesitações e falta de percepção da vertigem que se vive nos mercados.
A televisão está, igualmente, numa transição tecnológica acelerada, para a qual muitos responsáveis editoriais e de programas não estão preparados ou a desprezam por amor às rotinas.
A festa das novas “grelhas” de programas acabou. E quem o fizer não percebe que continua agarrado ao passado. O espectador está a ficar “dono” da sua programação, elaborando-a conforme entende e em função das suas preferências. Os separadores longos e insuportáveis de publicidade estão condenados.
As televisões regionais, locais, de bairro, temáticas, corporativas ou de “vão de escada” vão competir com as generalistas convencionais. Os gigantes globais ( e o algoritmo) farão o resto..
Balsemão não merecia assistir ao desmoronamento do edifício que construiu . Mas corre esse risco.