Esta evolução já levou ao encerramento de inúmeros jornais e outros “media” e à diminuição drástica do número de jornalistas nas redações, o que naturalmente limita a capacidade desses meios de comunicação para investigarem a verdade e para fazerem reportagens caras.

Como já tenho dito, o “Washington Post” (comprado em 2013 por Jeff Bezos, fundador da Amazon, mas mantendo uma apreciável independência editorial, na crítica a Trump nomeadamente) nos dias de hoje já não teria capacidade para fazer aquilo que fez em 1974: levar à saída de Nixon da Casa Branca, por causa do escândalo do Watergate, que o jornal investigou durante meses. 

Praticamente todos os “media” agora têm “sites” na net. Alguns jornais, como o britânico “Independent,” desistiram da edição em papel, passando a publicar-se apenas na net. Em Portugal, o centenário “Diário de Notícias” só publica em papel a edição de domingo. Outros jornais nascem na net e alguns conseguem sobreviver. É o caso, entre nós, do “Observador”. O problema é que o volume de publicidade canalizado para jornais eletrónicos é muito inferior ao que era antes dirigido a jornais em papel. Por outro lado, há grandes hesitações quanto aos conteúdos em jornais eletrónicos que devem ser de acesso gratuito e aqueles que devem ser pagos.

Vários jornais, como o “New York Times” e o “Guardian”, apelam aos seus leitores para que assinem as suas edições eletrónicas, uma forma de os ajudarem financeiramente a sobreviver. Mas a eficácia desse apelo tem limites. No fundo, ninguém sabe – em Portugal e no mundo – como ultrapassar a crise da comunicação social.

O Presidente Marcelo falou numa “intervenção transversal, a nível parlamentar, que correspondesse a um acordo de regime”, para aliviar o estrangulamento financeiro da comunicação social. Na sequência das palavras do Presidente, a professora da Universidade do Minho, Felisbela Lopes, apontou, no “Jornal de Notícias”, alguns benefícios fiscais e outras medidas da parte do Estado.

Só que me parece perigoso para a independência do jornalismo meter os políticos no sector. Desde logo, na escolha de quem e em que medida seria beneficiário de isenções ou reduções fiscais. Todos os “media”, incluindo jornais regionais e locais? A própria Felisbela Lopes refere que muitos “media” regionais “estão hoje dependentes das vontades políticas do poder local e isso gera naturalmente algumas perversidades”.

Ora, a nível local ou nacional, parece-me extremamente difícil evitar “perversidades” quando o Estado intervém. Tivemos essa experiência em Portugal. Não gostaria de a ver repetida.