O deserto da informação na América Latina
As revistas publicadas em Portugal por ordens religiosas missionárias são uma fonte importante de notícias sobre longínquas partes do mundo, onde as agências noticiosas internacionais raramente chegam. Refiro-me a revistas como Além-Mar, dos missionários Combonianos, e Fátima Missionária, dos missionários da Consolata.
Curiosamente, vou referir uma peça jornalística onde se denuncia a falta de informação. No seu último número, a Além-Mar publica um breve artigo com o título “O deserto da informação local”, onde dá conta de que milhões de latino-americanos estão à margem do seu próprio mundo, pois não têm acesso a quaisquer meios locais de informação. O artigo cita a Fundação Imprensa e Sociedade, um observatório de comunicação com sede em Caracas, capital da Venezuela.
Mas não é só a informação local que escasseia em enormes territórios da América Latina. A Fundação Imprensa e Sociedade informa que “uma boa parte da América Latina não sabe o que se passa à volta, nem perto nem longe. Não tem quem lho diga”.
E a Fundação interroga-se: “Saberá porventura que o Governo e o Exército de Libertação Nacional assinaram um cessar-fogo na Colômbia, que o mar está a engolir a costa do México, que a região está a exportar menos ou que a violência contra as mulheres está imparável no Peru?”.
A falta de informação também afecta as notícias locais. E quando essa informação existe, ela é muitas vezes desvirtuada por “interesses sectários, políticos ou económicos, sabe-se lá quais, com pouco ou nada que ver com as suas comunidades”.
Esta é uma realidade que se sente sobretudo no Brasil. Ali não existem quaisquer meios de comunicação em 312 municípios, onde vivem quase 30 milhões de pessoas. Na Venezuela, com uma população de 28 milhões, sete milhões vivem em municípios onde não há quaisquer meios informativos. Etc.
As causas para esta carência de meios de comunicação social são múltiplas e variadas, consoante os países. Regimes não democráticos, como o Brasil teve uma Ditadura Militar entre 1964 e 1985, não são favoráveis à livre informação. A guerra civil, que se regista ou registou em vários países da América Latina, também não ajuda à promoção da informação, além de ter provocado a morte de muitos jornalistas. Na Venezuela, o regime de Nicolas Maduro instituiu a censura prévia e multiplicou encerramentos compulsivos de “media”. Etc.
Claro que a pobreza, que atinge a maioria dessas comunidades onde não há meios de comunicação social, é em larga medida responsável pelo deserto de informação. E os governos nacionais têm manifestado fraco interesse em promover um jornalismo independente e plural. Em certos casos os jornalistas são vistos mesmo como o “inimigo”.
Só a democracia e o crescimento económico irão permitir em toda a América Latina o direito à informação.