O descalabro da Global Media
O colapso já admitido por responsáveis da administração do Grupo, com um despedimento colectivo no horizonte - por não haver sequer dinheiro para montar um programa de rescisões amigáveis -, faz prever o pior.
Os dois títulos, que já foram de referência, são as mais recentes vítimas de um acumular de erros sucessivos, envolvendo – há que escrevê-lo com frontalidade – tanto administrações como direcções editoriais.
O DN, reconvertido em semanário, é um fantasma do jornal de prestígio que marcou gerações e influenciou a agenda de governos ao longo de século e meio de publicação.
Tem uma circulação irrisória em papel, e não conseguiu fixar assinantes no digital. Tornou-se numa triste irrelevância que não vai longe, com a agravante de correrem rumores sobre o desbaratamento do seu arquivo histórico, o que, a confirmar-se seria um crime de lesa- Cultura.
Já o JN , embora com perdas significativas de leitores na sua edição em papel, tem resistido no digital. Porém, tal como o DN, perdeu influência , e a mesma gula imobiliária também não o poupou.
Em ambos os casos , o actual chairman do Grupo, Daniel Proença de Carvalho, não tem motivos para se orgulhar. Advogado com uma carreira invejável - alavancada pelo processo de António Champalimaud - , há muito que se interessa pela Comunicação Social , desde a televisão à imprensa.
Fica com o nome manchado e ligado ao naufrágio de um Grupo que não fundou, mas que não soube evitar que se afundasse . Uma tristeza.
A crise declarada da Global Média, que engloba ainda a TSF , em rota descendente - agora com a Radio Observador, mais ágil e aberta, a disputar-lhe a vocação matricial de “rádio de informação” -,funciona como uma espécie de antecâmara do desmantelamento a prazo.
Os media portugueses não estão a viver os melhores dias. O DN primeiro, e o JN a seguir, são o pré-aviso de um futuro comprometido. Haja quem perceba que, sem jornalismo qualificado e independente, é a própria democracia que fica em causa.