Em Abril, em França, o Facebook disse que havia eliminado 30 mil contas falsas antes das eleições presidenciais. Em Outubro, admitiu ao Congresso dos EUA que 126 milhões de utilizadores tinham lido publicações sobre as eleições presidenciais de 2016 em contas falsas da Rússia.

Em novembro, a UE lançou uma consulta pública sobre o que as empresas de redes sociais fizeram para combater a desinformação: um processo que poderá ver sua promoção tornar-se ilegal.

Entretanto, arrancou uma campanha mais ampla contra o "Duopólio", como ficaram conhecidos o Facebook e a Google, com o argumento de que o seu domínio da publicidade online priva o verdadeiro jornalismo de financiamento.

Nem tudo tem sido um mar de rosas para eles: em Março, várias empresas no Reino Unido descobriram que estavam a financiar jihadistas indiretamente, com o YouTube, uma subsidiária da Google, a colocar os seus anúncios ao lado de vídeos radicais. Centenas de organizações retiraram a sua publicidade, e o boicote espalhou-se para os EUA.

Ainda assim, calcula-se que, em 2017, a Google e o Facebook tenham engolido mais de 80% dos gastos em publicidade em todo o mundo, excluindo a China.

Como estão os jornais, os meios de comunicação social mais tradicionais, a lidar com isto? Mal.

Em Portugal, são vários os que restringem o acesso às edições online aos clientes que pagam, o Público fá-lo em parte, o Expresso mais plenamente, mesmo que o Diário de Notícias não o faça. Alguns sites especializados estão a sair-se bem, mas ninguém tem o segredo para financiar os jornais generalistas.

Além-fronteiras, mesmo as publicações com alcance global tiveram de tentar vários modelos. O Financial Times e o Wall Street Journal estão contentes com os seus acessos pagos, mas têm leitores mais ricos; já não é tão evidente que a dependência das doações de leitores do The Guardian seja sustentável.

O problema para a Imprensa, e para a democracia, é mais amplo. Hoje, em muitos países, os utilizadores mais facilmente se deparam com artigos via motores de busca e redes sociais do que nos sites dos jornais, e os primeiros restringem muitas vezes o conteúdo de uma forma que seria ilegal se feita por uma emissora.

Como o Wall Street Journal afirmou recentemente, "o Duopólio Google-Facebook ameaça a diversidade do pensamento". Ele citou o presidente da Comissão Federal de Comunicações dos EUA quando disse que as redes sociais e os motores de busca "bloqueiam rotineiramente... conteúdo de que não gostam".

Em Dezembro, a Comissão de Normas na Vida Pública do Parlamento do Reino Unido recomendou que as plataformas sejam sujeitas a regulamentos semelhantes aos dos jornais, referindo um "ambiente online intensamente hostil". O Facebook e a Google evitam essa regulamentação "em grande parte" devido a uma directiva da UE que os classifica como "hospedeiros", mas o compromisso do governo de deixar o mercado único europeu pode mudar isso.

O Reino Unido até está a ponderar formas de subsidiar os sites jornalísticos, por exemplo, cobrando impostos ao Duopólio (como a indústria do jogo subsidia as corridas de cavalos).

Nos EUA, também se fala no Congresso de regulamentar as redes da mesma forma que a comunicação social tradicional no que respeita a publicidade política, para que os utilizadores saibam quem pagou por ela.

Os problemas de ordem prática são enormes, dada a quantidade de conteúdos. Mas os membros do Comité de Informação da Câmara dos Representantes pediram aos gigantes da Internet um relatório sobre como a Rússia os usou para promover notícias falsas, para que os legisladores estejam informados antes de fazerem recomendações que possam afectar os seus negócios.

O "Duopólio" ainda merece o rótulo, mas o seu domínio já não é inquestionável.

 

( *Alison Roberts é membro da AIEP – Associação de Imprensa  Estrangeira em Portugal, a cuja direcção já presidiu. O  texto que assina foi publicado originalmente no DN)