No 40.º aniversário da TDM-Televisão de Macau
O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) comemorou a 13 de Maio, com sala cheia e um conjunto de luxo de individualidades, o 40.º aniversário da TDM-Teledifusão de Macau.
Foi uma oportunidade (quase) perdida porque teve pouco que ver com a evolução da Televisão em Macau. Foi mais sobre a importância da RTP - Radiotelevisão Portuguesa no nascimento da Televisão de Macau.
E, contudo, havia boas razões para, só por si, comemorar esse papel da RTP em nome da ligação entre Macau e Portugal e na difusão da língua portuguesa a 11 mil quilómetros “do rectângulo à beira-mar plantado”.
Em 1984, uma equipa multidisciplinar a quem chamei “os homens sem sono” fez aquilo a que na altura considerei como um milagre, dada a carência de recursos humanos na Macau de então.
A TDM nasceu, então, porque a RTP dispensou alguma nata dos seus quadros para avançar no projecto: Joaquim Osório e Guilherme Pimenta (parte técnica); Carlos Fonseca (emissão); Manuel Faria de Almeida (programação); João Nuno Nogueira (produção); Marcos Loureiro (realização); Nestor Ribeiro, que de operador de câmara acabaria por ser um excepcional realizador; e mão (áudio) de João Canedo ainda hoje recordado no sector de Macau.
Sob administração de António Vidal e Abel Martins.
Entre jornalistas, o destaque vai para o saudoso José Alberto de Sousa — o primeiro pivot de telejornal da TDM, e o saber profundo de Avelino Rodrigues que fez escola na redacção.
Peço desculpa se me esqueço de alguém, mas realmente foram eles que, em 1984, desempenharam o papel crucial de pôr no ar a estação televisiva de Macau, numas instalações medíocres que pertenciam aos Correios de Macau.
Até então Macau tinha apenas acesso a duas estações de Hong Kong — a ATV e a poderosa TVB — que nada ligavam à realidade de Macau, numa altura em que a “aldeia de cariz português” já estava a bulir.
A partir daí Macau autonomizou-se, também, em termos televisivos (desde 1976, com o Estatuto Orgânico já era autónomo em termos legislativos e financeiros) e a urgência terá tido que ver (sem a RTP saber) com as aspirações eleitorais em Portugal, do Governador Almeida e Costa, que no final do seu consulado não teve campanha para utilizar os milhares de metros de filme das “suas” realizações em Macau.
Nos anos 80, a TDM esteve envolvida em polémicas, internas e externas, mas a partir dos anos 90 começou a ganhar estabilidade. O aumento da tecnologia trouxe “a estação terrena para recepção de sinais satélite” que permitiu ligação directa ao mundo, outro valioso contributo que permitiu a ligação permanente à RTP.
Foi efectivada pela equipa da RTP de Freitas Cruz/Dinis de Abreu, proporcionando um importante salto qualitativo na aproximação de Macau e do mundo que fala português.
A seguir, com quatro anos como presidente da Comissão Executiva (1992-96), Maria do Carmo Romão, vinda da RTP, proporcionou à TDM outro período de expansão, um desenvolvimento “passo a passo” que acompanhou o dinamismo do território.
De realçar, já nos anos finais da administração portuguesa, agora com Paulo Ramalheira como administrador, a detalhada cobertura da passagem da soberania em Dezembro de 1999, que foi vista em todo o mundo numa complexa operação televisiva.
Depois de 2000, a TDM passou à fase de expansão, e no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) foi surpreendente perceber a dimensão da actual estação, que tem cinco canais de televisão (um em português, com um telejornal diário em inglês), dois de rádio (um em português, com programas em indonésio e filipino) e plataformas na internet em várias línguas e conteúdos.
O actual presidente do Conselho de Administração, comendador António José Freitas, detalhou em vídeo este serviço público para uma população de 600 mil pessoas, de várias nacionalidades e culturas, desde o português ao filipino, tailandês e indonésio, sabendo-se que o mandarim é a língua oficial e o cantonense, o dialecto, da maioria da população de origem chinesa. Terá sido uma surpresa para muitos, devido à dimensão de Macau.
No CCCM falaram ainda António Vitorino, secretário dos Assuntos Parlamentares em Lisboa entre 1983 e 1985, Luís Marques Mendes, actual conselheiro de Estado e que de 1992 a 1995 foi ministro dos Assuntos Parlamentares em Portugal, que de algum modo apoiaram as fases de desenvolvimento da TDM, a ex-ministra e ex-candidata presidencial Maria de Belém Roseira, que foi administradora da TDM, e Nicolau Santos, actual presidente da RTP, que manifestou apoio à co-operação já existente entre as duas estações.
Presentes, entre muita gente que passou por Macau, o último Governador de Macau, general Rocha Vieira e a presidente da Fundação Jorge Alvares, Maria Celeste Hagatong.
*José Rocha Diniz: Jornalista. A RAEM não aderiu o novo Acordo Ortográfico.