Mudar a Educação
A Internet é uma janela interativa aberta ao mundo que está a mudar rapidamente - sobretudo nos mais jovens - os padrões de comportamento económico, social e cultural. Trata-se de uma nova literacia suportada por novos instrumentos que, alterando a nossa forma de viver, nos vai obrigar a mudar a forma de educar. Teremos de usar muitas cautelas, porque a Internet tem perigos, cria dependências e não está isenta de riscos. Devido ao acréscimo de complexidade dos suportes da Rede ficaremos mais especializados mas, ao mesmo tempo, muito mais dependentes de uma ferramenta frágil, falível e manipulável.
Na antiguidade, os caçadores e os guerreiros eram educados pela tribo e preparados seguirem as pisadas dos seus antepassados. Era uma educação feita com regras, valores, crenças e rituais. Mas, hoje, a tribo - que é a tribo global - é difusa, está mal definida e carente de valores. Na nossa sociedade - condicionada pela economia de mercado e formatada pela comunicação social -, o único valor transversal é o dinheiro, e aquilo que lhe está associado: o consumismo, a competição e a ambição pelo poder. E isso reflete-se na educação, também ela orientada para a competição e para o sucesso profissional. Ora, a incerteza que persiste na economia, a tomada de consciência dos malefícios do crescimento a todo o custo - a predação dos recursos, o desperdício e a poluição -, o desemprego e a ausência de valores já estão a criar nos mais jovens angústia e desorientação. Para cumprir a sua missão de educar, continua a ser essencial que a escola se envolva e seja envolvida pela comunidade. Uma nova sociedade exige, pois, uma nova escola e uma nova escola tem de ser a semente de uma nova sociedade. As mudanças que se exigem para a nova escola têm de ser concomitantes com as mudanças na organização social.
A nova escola tem de criar espaço para a experimentação e para o trabalho manual. Tem de levar em conta as diferenças entre os alunos. Como disse César Buona, um jovem professor, "cada criança é um universo. Todas as crianças são extraordinárias e únicas e não basta encher-lhes a cabeça com dados, temos de lhes fornecer ferramentas e conhecimentos, facilitar-lhes a tarefa com empatia, sensibilidade e resistência, para que elas possam sair fortalecidas de situações adversas. As crianças devem saber que, se se propõem a algo e lutarem por isso, podem consegui-lo e que depende deles tornar o mundo um lugar melhor". Também o sistema de avaliação terá de ser repensado. Em vez de ensinar para a vida, o professor ensina para o exame; em vez de estudar para aprender, o aluno estuda para a prova. Ora, o que se aprende para a vida perdura; o que se aprende para a prova esquece.
O mundo em que irão viver os alunos de hoje será um mundo mais desconfortável do que aquele onde nós vivemos na atualidade. Será caraterizado pela escassez de recursos, pela persistência da crise económica (e consequente desemprego) e pelos efeitos das alterações climáticas. Será um mundo menos seguro, em boa medida como resultado do agravamento das desigualdades provocadas pelo crescimento demográfico, pelos movimentos migratórios, e pelos conflitos étnicos e os sociais. Compete à educação preparar o homens que terão de enfrentar e superar a adversidade que se perspetiva.