Mário, sinto saudades suas….
Do outro lado, o sorriso e o silêncio: “Não lhe prometo nada, mas mande-me lá o link, que eu vou tentar”. “Não se canse Mário… - balbuciei a medo - A sua saúde é muito mais importante”. E ele rápido, quase premonitório: “Não, Graça. Vou ouvi-los já. Conte comigo. Ouço-os de certeza”. Horas depois um SMS: “Consegui ouvir dois, estão ótimos! Para mim chegava”. Mesquita nem por simpatia aprovaria um texto que lhe parecesse medíocre ou mau.
Choro, enquanto escrevo. Não faz mal. Aprendi tanta coisa com ele. Tanta coisa importante. Que quando o telefone tocou a dizer-me baixinho “O Mário morreu…” poucas horas depois das boas notícias iniciais, não queria acreditar que não poderia mais aprender com ele, sempre, eternamente e muito mais.
O estranho dever do ceticismo e o valor da mágica palavra “disse”, que levou três horas a explicar numa das primeiras aulas de Ciências de Informação na Católica. “Disse é disse!”. Nunca mais o esqueci. “Não é afirma, nem denúncia, nem alerta nem revela, nenhuma dessas muletas a que o jornalista recorre só para não repetir a simples e digníssima palavra “disse” quando alguém apenas, nos disse, alguma coisa”.
Quando o Mário foi iniciar o curso de Comunicação Social na Universidade da Beira Interior, herdei as duas cadeiras que deixara na Universidade Nova em Lisboa. Um orgulho. Herdei as cadeiras, os apontamentos, os papeis, os índices das matérias, os truques para manter os alunos acordados às 8 horas da manhã.
Ele que tinha um frustrante tom monotónico desde os 29 anos, algures na provecta idade em que o conheci, e que só não fazia adormecer o mais espevitado dos ouvintes, porque à terceira frase punha a funcionar por magia a sua sarcástica lucidez e com isso já conectara o “tico” e o “teco” dos mais ensonados.
Enquanto escrevo choro. Não faz mal. O Mário conhecia a minha fé em Deus e eu conhecia a sua falta de fé na humanidade. Conheci a Clotilde e depois a Ana e vi a foto da Cecília no nosso último almoço. A neta que no dia da morte do avô fazia anos. Era a sua nova razão de vida. Continuará a ser. Hoje ao encontrar-se com o meu Deus devem ter-se esfumado as suas reticencias e pragmático deve ter correspondido ao seu abraço amigo:
- “Mário já tinha saudades tuas!”
- “Então Existe? Muito gosto”.
Mário já sinto saudades suas…choro a escrevê-lo. Não faz mal. Sei que já está com Ele.