a) ser financiado pelos orçamentos dos Estados, através de instituições independentes dos poderes políticos, económicos e financeiros, necessariamente também integradas por jornalistas (jornalistas mesmo, não comentadores de temas mediatizados, nem cronistas emanados de fora de jornalismo, nem teóricos do jornalismo como sejam professores de comunicação, nem vendedores de clicks e outros agentes comerciais do mundo dos negócios) e sujeitadas a escrutínios rigorosamente estrangeiros a interesses de sectores particulares, única forma de salvaguardar a transparência de todos os processos envolvidos – condição extremamente dificultada pela natureza endemicamente corrompida das sociedades, e ainda mais quando a desigualdade e a miséria prosperam, favorecendo a expansão da instrumentalização da informação e do número de pessoas dispostas ao trabalho indigno;


b) ser financiado pelos leitores, através do modelo por subscrição paga, creio que o único capaz de suceder ao modelo assente nos anunciantes (entretanto migrado para a Internet e cuja unidade na cadeia de valor chamada click tem feito prosperar o negócio – sem relação com o jornalismo – dos agregadores de informação vertiginosa de cariz noticioso, amiúde não verificada) e de garantir a independência do jornalismo, assegurando o financiamento das despesas com o próprio jornalismo – uma vez que a reportagem e a investigação de fundo (os géneros que de facto definem a actividade jornalística e não já as notícias, e de que as democracias absolutamente dependem para sobreviver) constituem práticas não apenas dispendiosas como também indesejáveis para a lucrativa desregulação neoliberal global, o que, aliás, explica o desinvestimento em jornalismo a que temos vindo a assistir desde o advento da globalização da economia mundial.


E era isto, no dia depois de ter terminado o 4.º Congresso de Jornalistas Portugueses e em que novamente jornalistas (grandes repórteres, com provas mais que dadas no terreno muito concreto do jornalismo – malgrado o mito académico que recentemente declarou  a profissão «indefinida» –  e ademais dotados de superlativas capacidades narrativas) foram dispensados no jornal Público.