Este caso envolve, também aspetos irónicos. Quem investigou, ou mandou investigar, o assassinato deste jornalista foi o presidente da Turquia, Erdogan, recordista mundial quanto à prisão de jornalistas. A liberdade de expressão, a par de outras liberdades, é cada vez menos respeitada pelo regime autocrático que Erdogan impôs no seu país, depois de quase uma década em que foi primeiro-ministro e parecia um moderado.

Erdogan hoje aposta na afirmação da Turquia no mundo muçulmano, uma vez desfeita a ilusão de uma futura integração na União Europeia. O caso de Khashoggi, o jornalista assassinado, permite-lhe iniciativa e visibilidade no plano internacional. E mostrar que possui uma poderosa e eficaz polícia secreta – que é também uma polícia política.   

Irónico é ainda o facto de este caso atrapalhar Trump – que detesta jornalistas. Há dias, o presidente americano aplaudiu vivamente, em público, um político americano que tinha sido julgado e condenado por ter deitado ao chão um jornalista do britânico The Guardian.

Esperemos que o caso Khashoggi não leve Trump, na sua “pedagógica” cruzada contra os jornalistas, a sugerir métodos mais violentos, como o agora usado pela Arábia Saudita.