Fernando Guedes: a palavra era a Verbo
Visionário, em finais da década, Fernando Guedes lançou as bases da Editorial Verbo. Nunca mais parou, consolidando um invejável prestigio. Dirigiu a casa durante meio século, atravessando gerações, regimes políticos, adversidades.
Bastaria ter publicado a Grande Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, a Enciclopédia Verbo Juvenil ou a celebrada série dos Livros RTP - agora reposta, com outra chancela -, para garantir um lugar ímpar no meio editorial português. Mas foi muito mais longe, caprichando em não ceder a modas de ocasião ou a interesses do poder do dia.
Historiador, poeta, escritor, crítico de arte, ensaísta, estudioso, faltava nessa altura ao editor a incursão no mundo da escrita jornalística, da qual era um admirador confesso. Aceitou o desafio sem a menor hesitação. E se a colecção não foi mais longe não foi porque lhe faltasse o ânimo.
Editou jornalistas, que não conviviam com as suas referências ideológicas, como Carlos Fino (“Guerra em Directo”), Cáceres Monteiro (“Hotel Babilónia”). José Silva Pinto (“Comunicasos”) ou Fernando Cascais (“Dicionário de Jornalismo”), na colecção Media Hoje, iniciada em 2003, e coordenada pelo autor destas linhas.
São obras muito diferentes entre si, algumas esgotadas, que constituem registos únicos de reportagens inesquecíveis, ou contributos de experiências e reflexões profissionais amadurecidas, indispensáveis a quem queira viver de perto o jornalismo.
Prestigiado a nível internacional como poucos, Fernando Guedes presidiu à Federação de Editores Europeus e foi eleito, nos anos 90, presidente honorário da União Internacional de Editores.
Conversador incansável, crítico contundente, Fernando Guedes nunca escolheu o caminho do “politicamente correcto”.
Intransigente, nunca abdicou da sua independência de pensamento, nem se desviou dos seus valores e princípios.
A obra publicada - e a que continua dispersa por modéstia do editor -, representa um importante testemunho para a História das ideias. Habituou-se a viver os dias com método, disciplina, sempre em contra-relógio, como se temesse que o tempo parasse cedo demais.
Deixou muito por escrever. Mas deixa muito para lermos devagar. Tem um lugar cativo na nossa memória.