Comentadores, jornalistas, inteligência artificial e afins…
As televisões transformaram-se num viveiro de comentadores. Sejam os canais generalistas, ou temáticos na área da informação, não falham os especialistas, desde o futebol à política, ou desde a saúde pública - como se viu durante a pandemia -, à guerra na Ucrânia.
Em pouco tempo, médicos epidemiologistas e pneumologistas, ou generais na reserva versados em estratégia militar, ganharam protagonismo mediático devido às suas intervenções diárias.
Mas foi, principalmente, no comentário político que se assistiu a uma verdadeira enxurrada de “analistas”, entre politólogos, jornalistas ou actores políticos na reforma (e mesmo no activo…), promovidos a colaboradores regulares das televisões, em múltiplos painéis, frente a frente, e noutros formatos.
Em abono da verdade, a vaga de comentadores políticos só tem paralelo nos comentadores de futebol, tanto em número como, demasiadas vezes, no chorrilho de banalidades.
O certo é que não desistem, nem as televisões desistem deles, como se fizessem já parte integrante da paisagem audiovisual.
É um fenómeno muito português, não faltando quem atribua as “culpas” a Marcelo Rebelo de Sousa, há muito reconhecido como pioneiro neste modelo de intervenção pública.
Por isso, os comentadores, nas diversas especialidades, tornaram-se tão “obrigatórios“ em antena, como os amadores espontâneos, que recolhem vídeos ou fotos nas mais variadas ocorrências, para os partilharem, depois, nas redes sociais, ou com as televisões de referência na informação.
Porém, se os “políticos-comentadores” são uma singularidade mediática muito portuguesa, já o “jornalismo do cidadão” é comum em várias latitudes, e, nalguns casos, com assinalável sentido de oportunidade e até de risco.
É neste contexto que o jornalismo e os jornalistas enfrentam uma nova “concorrência”, agora agravada pelo aparecimento em força
da inteligência artificial, com relevo para o ChatGPT , inicialmente encarado com desdém, mas suspeito já de ser um poderoso desafio para as democracias ocidentais, não faltando os defensores de mecanismos restritivos ou censórios para limitar a sua expansão e os seus supostos danos.
As mudanças são agora infinitamente mais rápidas, tanto no registo dos costumes como no plano tecnológico. O jornal em papel está em declínio, sobretudo em sociedades menos afeitas à leitura, substituídos quer pelos suportes digitais, quer pelo audiovisual, e por outros meios de comunicação.
Neste contexto, sobram para os jornalistas novas apostas, exigindo capacidade de adaptação e de inovação no seu trabalho.
Se conseguem ou não sobreviver e reinventarem-se, perante o espartilho tecnológico, transformando em vantagem a Inteligência Artificial ou o “cerco “ no perímetro editorial e na relação com o consumidor, é o grande enigma dos nossos dias. Ou a grande incógnita.