Com “papas e bolos”…
O exercício dessa liberdade tem sido, no entanto, incómoda para o poder político do dia. E as fragilidades actuais da maior parte das empresas jornalísticas têm agravado dependências e coagido muitos profissionais a pensarem mais com o estômago do que com a cabeça.
Disse António Barreto - com a autoridade que tem o sociólogo, que viveu a política de perto e permanece atento ao comportamento mediático – que “o bom momento do Governo no último ano e meio se deve, em grande parte, à complacência da imprensa”.
Tem razão, embora essa complacência não seja nova.
Há jornalistas que se habituaram a tomar partido, sacrificando o rigor da informação às suas inclinações e fervores políticos, manipulando e distorcendo os factos, com o único objectivo de servirem os seus interesses de capela e não desagradarem a quem detém as alavancas do Governo.
A cobertura do recente debate sobre o “Estado da Nação” foi a esse respeito exemplar da “complacência” que está a matar a credibilidade dos “jornais de referência” em Portugal e das televisões – a pública e as privadas.
As capas da maioria dos jornais do dia seguinte eram um deserto confrangedor, como se nada de relevante tivesse acontecido no Parlamento. Na ânsia de proteger o Governo, escamotearam-se os discursos da oposição – ou , pior, desvalorizaram-se, recorrendo a truques primários. Uma tristeza.
Enquanto nos EUA os jornalistas cerram fileiras contra um presidente instável, imprevisível e incontinente, em Portugal as queixas de Barreto têm toda a razão de ser.
O jornalismo está a ficar obediente e servil. E as excepções começam a sentir na pele o desagrado de quem manda. A Democracia empobrece. Pedrogão Grande, Tancos e o fracasso do Estado são para esquecer. Há uma máquina pronta a dar “boas noticias” em “paz social”. E com “papas e bolos” …