Pessoalmente, devo-lhe a minha entrada no jornalismo profissional. Em Setembro de 1970, F. Balsemão convidou-me para entrar no Diário Popular, jornal vespertino, líder de vendas, de que ele era accionista minoritário – e onde funcionava como uma espécie de super chefe de redacção “de facto”. O convite, que aceitei, era para me dedicar exclusivamente ao jornalismo económico.

 

O jornalismo especializado praticamente não existia então em Portugal. E a muitos colegas de redacção no “Diário Popular”, mais velhos do que eu e que me receberam com simpatia, fazia confusão essa novidade de haver um jornalista especializado.

A ideia prevalecente no meio da Imprensa era que o jornalista deveria ser, quase que por definição, um generalista. Aliás, nos jornais quase não existiam secções separadas, com excepção do desporto e de pouco mais. Conheci jornalistas que tanto tratavam de questões económicas como cobriam a Volta a Portugal em bicicleta.   

 

F. P. Balsemão conhecia bem a Imprensa internacional e sabia que nela havia secções e jornalistas especializados. Não quer dizer especializados na mesma área para todo o sempre, mas era indubitável que um jornalista apenas ficava a conhecer bem um determinado sector – a saúde, a educação, a política internacional, etc.- ao fim de lidar com essa área durante alguns anos.

 

Eu fiquei cinco anos no “Diário Popular”, de onde saí para fazer parte do grupo de fundadores do semanário “O Jornal”. Nesse ano, 1975, o “Popular” foi nacionalizado indirectamente, com a nacionalização dos bancos. Mas a minha convivência com F. P. Balsemão naquele vespertino foi infelizmente muito curta.

Semanas depois de ali começar a fazer jornalismo profissional, o maior accionista do “Diário Popular”, um tio de Balsemão, vendeu-o ao Banco Borges, na época liderado por Miguel Quina.

Naturalmente que F. P. Balsemão saiu do jornal, que perdeu muita da sua independência editorial. Menos de três anos depois Francisco  P. Balsemão fundaria o “Expresso”, um caso de sucesso em matéria de qualidade jornalística e de vendas. Felizmente, o “Expresso” vai continuar.