Augusto Cid, uma obra quase monumental
No cartoon, era imbatível, em quantidade e qualidade. Quando ele aparecia, nas reuniões de redacção das quintas-feiras do semanário “Parada da Paródia”, de que fui director, e foi editado pelos Parodiantes de Lisboa, em 1960/61, vinha montado na sua mota, e já sabíamos que trazia, na pasta dos originais, material sempre de grande qualidade.
Havia um assunto que o motivava particularmente: a tourada. Fez muitos bonecos e até páginas inteiras dedicadas a esse tema, e os seus cavaleiros tauromáquicos tinham mesmo muita piada. Aliás, por falar em cavalos, nem toda a gente sabe que o Augusto Cid era, igualmente, um talentoso escultor, e se dedicava particularmente a esculpir cavalos, com uma expressão e um movimento espectaculares.
Aliás, nos seus regulares contactos com os Estados Unidos, onde foi expor durante anos, tornou-se uma rotina anual a sua apresentação de esculturas de cavalos, apreciadíssimas pelos americanos.
Lembro-me da mais longa conversa que tive com o Cid. Foi durante uma compridíssima viagem de camioneta, de Lisboa a Vila Real de Trás-os-Montes, onde íamos fazer parte do júri do primeiro Salão Nacional de Caricatura, organizado pelo Osvaldo de Sousa e patrocinado pela Regisconta. O Cid, que não era lá muito falador, teve então tempo suficiente para me contar alguns episódios da sua vida, que me revelaram um homem muito sensível e generoso, defensor de causas que considerava justas, e com uma capacidade de trabalho verdadeiramente notável.
Trabalhou comigo na “Parada da Paródia”, e só não trabalhou noutros projectos meus, posteriores, porque, entretanto, a sua colaboração com outros jornais e revistas o manteve sempre muito atarefado e cheio de trabalho. No entanto, ainda tive o privilégio de contar com ele para uma exposição que foi feita no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Outubro de 1989, integrada num projecto ambicioso, segundo o qual a nova Galeria daquele Museu, então em construção, viria a ser a sede e a base de um “Museu do Humor”, generosamente oferecido pela Câmara Municipal de Lisboa, e pelo seu presidente, Nuno Abecasis.
Ainda ali se fizeram quatro exposições, uma das quais a que referi atrás, com muitas obras do Augusto Cid, entre desenhos e esculturas.
Era um grande Artista, com uma grande obra publicada e justamente apreciada.