As limitações do nosso jornalismo
Como jornalista, não tenho uma reacção corporativa às críticas que se fazem ao jornalismo português. Concordo com muitos dos males apontados e lamento-os. Mas é de justiça salientar dois pontos.
Primeiro, a comunicação social portuguesa tem dado contributos importantes para a descoberta de casos de corrupção e outros, bem como trouxe para a praça pública a situação lamentável de muita gente que, de outra forma, continuaria a ser ignorada.
Isto acontece apesar das limitações que prejudicam o trabalho dos jornalistas. Praticamente todos os media no nosso país – e no estrangeiro também – lutam com problemas financeiros sérios. A publicidade é escassa e os “sites” eletrónicos desses meios não conseguem anúncios financeiramente compensadores. Por isso as redações têm vindo a ser reduzidas ao mínimo: há menos jornalistas e menos recursos para financiar investigações complexas. Ora as solicitações são hoje muito maiores do que eram há poucas décadas atrás: a informação não pára, é permanente.
O aparecimento da internet e das redes sociais levou a uma baixa brutal de leitores, ouvintes e telespectadores – e de publicidade. E o facto de os “media” tradicionais e os outros concorrerem, todos, em dar notícias 24 horas por dia nos respectivos “sites”, o mais rapidamente possível, não contribui propriamente para analisar e investigar, com tempo e ponderação, inúmeras informações, verdadeiras ou falsas.
Tenho dito várias vezes que o “Washington Post” não teria hoje possibilidades financeiras de fazer uma investigação como a realizada em 1974 ao caso Watergate: dois repórteres do jornal instalaram-se confidencialmente num hotel durante meses, com vários ajudantes. A crise é geral, mas Portugal tem uma população pouco dada à leitura e a ver e ouvir discutir temas sérios. O mercado é pequeno…
Claro que, mesmo com as limitações existentes, o jornalismo nacional poderia ser melhor. Mas convém não esquecer aquilo de que os consumidores da comunicação social mais apreciam. Na televisão, por exemplo, é o futebol – não propriamente ver jogos, mas assistir a discussões intermináveis sobre “casos” envolvendo árbitros, dirigentes e jogadores. Ou, então, “reality shows” degradantes – começou com o “Big brother”.
Mas o fenómeno não é novidade nem apenas português. Há muito que os jornais “tabloides” britânicos vendem dez vezes mais do que os chamados jornais de referência. Esses tabloides levam o sensacionalismo e a desvergonha a níveis impressionantes. E a Grã-Bretanha é um país culto, mas onde surgem políticos populistas como Boris Johnson...