Sucede que, tal como na vida material, também no mundo desmaterializado da Internet há sempre quem arranje boas razões para operar num plano de uma certa (ou até mesmo total) clandestinidade – favorecida pelos recursos de anonimato que a net proporciona. Refiro-me a uma economia paralela que prospera graças ao trabalho de pessoas que, ao alimentarem com os conteúdos produzidos pelos autores de sites não-lucrativos (e nem sequer geradores de quaisquer receitas) de blogs como este, alimentam involuntariamente também, e pela mesma ocasião, outras páginas a que são totalmente alheias, e cuja existência muitas vezes desconhecem – para não falar das “linhas editoriais” desses estranhos “espelhos” de conteúdos cuja propriedade intelectual não lhes pertence, as mais das vezes em linha com a pobreza moral em que assentam.


Refiro-me ao roubo descarado – e até mesmo encarado como uma prática comummente aceite e normalíssima – de conteúdos de carácter e valor autorais, sejam textos originais, as suas traduções para outras Línguas, sejam imagens (fotos e vídeos) de autor, etc. Um simples googling pode, nesse caso, ser de alguma utilidade em matéria de salvaguarda dos interesses autorais e editoriais associados a esses conteúdos. Não esquecendo todavia que a rapina, tal como a estupidez, não tem fim nem olha a meios. Ou seja, que os ladrões de textos e imagens alheias procuram sempre prosseguir a sua actividade paralela independentemente de tudo – designadamente linkando páginas congéneres (i.e., de outros análogos ‘furtadores’), ou ‘deslocalizando’ a actividade pela criação de novas páginas noutras plataformas.


Nos comecinhos da Internet existia um código de conduta conhecido por NETiquette. Com o passar dos anos e o crescimento da voragem proporcionada pela desregulação quase total do espaço virtual da Globalização, essas boas práticas foram sendo esquecidas. Todavia, elas terão nalgum ponto de ser retomadas, sob risco de a Internet se transformar numa versão sem conserto daquilo que infelizmente já é hoje: uma terra de ninguém, em que vale tudo, e onde também os negócios terão cada vez mais dificuldade em fazer-se, devido a procedimentos que deixam tudo a desejar à lisura, e onde também o jornalismo terá cada vez mais dificuldades em afirmar-se nas suas novas formas.

Sendo certo que o modelo de negócio em que assentam os agregadores não serve o jornalismo, como recorrentemente tenho vindo a escrever. Pois é preciso, antes de mais, gerar e experimentar novos formatos para o jornalismo, os quais serão, necessariamente, ancorados na criatividade, no trabalho de autor, e na produção própria em sentido largo.