Opinião
A versão “democrática” de Trump e Bolsonaro
Trump só aceita resultados eleitorais quando é declarado vencedor. Caso contrário, trata-se de uma fraude. Esta versão peculiar da democracia começa a fazer escola. É o caso de Bolsonaro. Os jornalistas são alvo da fúria de Trump e Bolsonaro. Donald Trump prepara a sua candidatura à presidência dos EUA em 2024. As sessões da comissão de inquérito do Congresso federal, que investiga o assalto ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, têm sido transmitidas pela televisão (exceto pela Fox News). Sucederam-se revelações gravíssimas sobre o papel de Trump nesse assalto, que pretendia impedir pela força a confirmação da vitória eleitoral de J. Biden. Mas nem assim parece mudar a atitude dos membros do partido republicano. Trump mantém a sua posição: as anteriores eleições presidenciais foram “roubadas”. O verdadeiro vencedor, e por larga maioria, foi ele, insiste o ex-presidente.Há quase dois anos que Trump sustenta esta mentira. Mais: ele já levou a maioria dos políticos do partido republicano a repetir essa mentira. Que as eleições que levaram J. Biden à Casa Branca foram livres e justas foi confirmado solenemente por muitas dezenas de intervenções judiciais. Os “media” fizeram-se eco dessas posições oficiais, acirrando o ódio de Trump contra os jornalistas. Quem não aceita a “mentira” da eleição roubada é, automaticamente, inimigo de Trump e do partido republicano. Numa palavra, Trump só aceita resultados eleitorais quando é declarado vencedor. Caso contrário, trata-se de uma fraude. Esta versão peculiar da democracia começa a fazer escola. Bolsonaro, que está atrás de Lula nas sondagens, não só adotou a linha de Trump de não aceitar uma derrota eleitoral, como o faz antes das eleições presidenciais brasileiras de Outubro próximo.
Julho 22
Trata-se de um contributo do discípulo Bolsonaro para a iluminada teoria do mestre Trump. O presidente brasileiro tem multiplicado suspeitas sobre o sistema de votação eletrónica do Brasil, que ele afirma não ser fiável, embora nada aponte em concreto. E sugere que não respeitará resultados eleitorais desfavoráveis.
Os jornalistas brasileiros insistem, solicitando a Bolsonaro que apresente provas daquilo que afirma. Mas as provas não aparecem. Os jornalistas são assim alvo da fúria de Trump e Bolsonaro. Honra lhes seja.