A morte anunciada do “DN” em papel
Depois de trocar um edifício construído de raiz para ser a sua sede, na avenida da Liberdade, pela quase anonimato num condomínio partilhado numa das Torres Lisboa, o vetusto “DN”, que já foi de referência , quase desiste do papel em que arquivou século e meio de História portuguesa, e envereda pelo digital, com uma redacção reduzida a metade da que tinha, quando era um matutino influente.
Nada que surpreenda. Os erros acumulados pagam-se caro e as dependências também. Publicar a única edição em papel ao domingo , quando os postos de venda estão reduzidos a um terço, é a prova de uma resignação. E uma desculpa para o futuro.
Bem pode Daniel Proença de Carvalho, investido no papel de “chairman” da empresa, anunciar que "o DN ultrapassou todas as crises porque soube rejuvenescer-se e adaptar-se às realidades". É uma frase feita, inócua e piedosa, do advogado astucioso, há muito com um pé nos media.
É uma afirmação tão gratuita e oca como a de proclamar que o “DN” deu “um salto para se aproximar dos seus leitores”. Só se foi um salto no escuro, perante a contínua deserção de leitores.
É um facto que a Imprensa em suporte de papel tem vindo a perder terreno e Portugal não é excepção. Convirá, todavia, sublinhar, que as tiragens irrisórias a que desceu o “DN” não têm comparação com as de outros jornais, diários e semanários, que se publicam em Portugal.
Com este passo, o jornal fundado em 1864 por Eduardo Coelho recolhe ao digital e adopta, em papel, uma camuflagem “multimarcas”, que constitui o novo jargão modernaço para impressionar os convertidos, a quem cabe recitar o catecismo de uma religião na moda. Estamos assim.