A questão não é nova e em Portugal tem sido camuflada, como tantas outras opções políticas, cujos decisores preferem ficar na sombra, confiando que uma opinião pública distraída pelo futebol e pelas novelas,  não antecipe aquilo que mais cedo ou mais tarde poderá acontecer.

Sejamos claros: há dois jornais diários “de referência”, onde  há muito se percebeu que o seu futuro – se tiverem futuro – se chama  Internet. Sabe-se que o Diário de Noticias e o Público estão na primeira linha dessa possibilidade , perante tiragens insustentáveis para a dimensão das suas redacções e de outros custos associados.

Se a circulação de ambos não dá sinais de reanimação , é natural que se espreitem mutuamente para saber o que o outro  tenciona fazer.

No caso do DN -  o jornal centenário fundado por Eduardo Coelho, que vendeu a  casa própria da avenida da Liberdade para se alojar em espaços usados das Torres Lisboa  - , o passo seguinte está escrito nos astros.

Quanto ao Público, cuja sobrevivência se deve há muito à teimosia do empresário Belmiro de Azevedo, não se adivinha melhor destino.

O Diário de Noticias e o Público entreolham-se e nenhum deles teve ainda  a coragem de seguir o exemplo  do  El Pais, cujo director não se inibiu de enviar uma carta aberta à redacção, na qual defendeu,  com transparência e  respeito pelos jornalistas e  leitores, que o jornal passará em breve a ser apenas digital. Só não indicou a data da transição.

Por cá, como é costume, disfarça-se e finge-se que não se passa  nada.

A Imprensa em Portugal tem perdido leitores a um ritmo vertiginoso, devido ao efeito conjugado de uma tendência, que é   global, e da apatia e falta de criatividade que caracterizam a sua oferta,  ressalvadas as poucas excepções.

Sem publicidade e com as vendas em queda livre,  não é preciso ser bruxo  para prever o colapso,  se nada for feito para combater a ameaça.

Ao contrário da imprensa local e regional, que,  sentindo os perigos,  tem feito pela vida com assinaláveis progressos, a chamada Imprensa de circulação nacional debate-se com crescentes dificuldades, sem atinar com a fórmula de evitar o precipício.

O impasse não poderá prolongar-se muito. E a tentação observada por parte de alguma Imprensa de ser uma camara de eco do poder do dia, também não facilita as coisas. Perde credibilidade e mais se afunda. Quando a independência se torna um mito perdemos todos.

Entre a espada e a parede a Imprensa precisa de andar depressa. Resta saber se tem ainda forças para isso.

      

 

 

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