Caraterizada pela adoção da comunicação interativa possibilitada pela internet, a revolução que está em curso - a quarta na história da civilização, depois da linguagem, da escrita e da imprensa – representa um novo salto em frente da humanidade. Com ela, está a nascer a economia hiperglobal. A estrutura da população ativa, as relações de trabalho, e até a forma de viver, estão a mudar. A mobilidade e as telecomunicações estão a provocar a uniformização dos gostos e dos consumos, não só de bens físicos como culturais. Generaliza-se a adesão ao comércio on-line e aparecem novas formas de vender e de fazer publicidade. Emergem novos produtos e serviços relacionados com a nova forma de comunicar - quer de hardware quer de software. A informação flui massiva e livremente na rede, e até a inteligência, materializada numa vasta panóplia de aplicações informáticas, passou a ser um produto comercial. Afirmam-se poderosas empresas de um novo tipo – a Microsoft, a Google, a Apple, o Facebook, ... . Está a mudar o modo como as pessoas se relacionam e se informam. As redes sociais, e o livre acesso à informação e ao entretenimento, estão a provocar forte impacto nos meios de comunicação tradicionais. Lêem-se menos livros e menos jornais. Ouve-se menos rádio; vê-se menos televisão. Na atualidade, estou em crer que a maior parte do nosso tempo de vigília já é passado em interação com ferramentas digitais.

Na nova economia, aos poucos, começa a definir-se e a ganhar peso um novo sector de atividade que poderemos designar dequaternário ou de quarto sector. O automatismo e a robotização estão a chegar aos serviços. Os transportes dispensam cobradores, revisores e até condutores. Os serviços financeiros, o comércio, o turismo, a hotelaria, estão a libertar mão de obra. A era digital está a eliminar muitas das antigas funções das indústrias gráficas e das comunicações. Enfrentamos este paradoxo: a população mundial aumenta, mas o emprego diminui, pois as necessidades de pessoas para trabalhar são agora menores. Será que o quarto sector vai absorver os excedentes de mão de obra provocados pelas transformações em curso?

Com a hiperglobalização, na minha opinião, a sociedade enfrentará novos e graves problemas. Não se criarão empregos suficientes para compensar os que se destroem. Estamos a afundar-nos na perigosa e arriscada dependência da crescente complexidade. A hiperglobalização irá acentuar ainda mais as dissonâncias entre a natureza e a economia. Os recursos continuarão a consumir-se de forma irracional, o planeta continuará a aquecer, as abelhas continuarão a morrer, a biodiversidade continuará a reduzir-se. Estamos já a manipular os genes dos seres vivos e a interferir com a própria identidade das espécies.

A nova economia herdou da velha o seu carácter mercantilista. Não resolverá problemas sociais e não promoverá igualdades. Alguns ricos ficarão mais ricos; muitos pobres ficarão ainda mais pobres. O desemprego crescente alimentará uma onda imparável de indignação e revolta. Os políticos e os economistas, obcecados apenas com o crescimento, só acordarão quando a casa comum estiver a arder.