A primeira dessas duas semanas começou espectacularmente, no domingo 7 de Fevereiro, com a transmissão, em exclusivo da CBS, do 50º Super Bowl, a finalíssima do campeonato NFL de futebol americano, este ano disputada entre as equipas dos Denver Broncos (vencedora) e dos Carolina Panthers, no estádio dos San Francisco Forty-Niners, em Santa Clara, Califórnia.

 

O jogo foi antecedido por uma extraordinária interpretação do hino nacional americano, “The Star Spangled Banner”, pela Lady Gaga, que os musicólogos consideraram a melhor de sempre, superior até à famosa interpretação de Whitney Houston no 25º Super Bowl, em 1991, no estádio de Tampa, Flórida.  

   

A transmissão teve uma audiência média de 112 milhões de espectadores, e mais de 115 milhões durante o “show” de Beyoncé no meio-tempo. A audiência média foi a terceira maior de sempre, mas a audiência máxima de 167 milhões (número mais alto de espectadores sintonizados durante pelo menos seis minutos) constitui um novo record.

 

A revista Forbes considerou o Super Bowl “o acontecimento desportivo mais valioso do mundo” e calculou que “terá gerado no mínimo 620 milhões de dólares de receita” (excluindo “4,2 mil milhões de dólares em apostas, 97 por cento das quais ilegais”). Segundo estimativas, os 39 minutos e 15 segundos de publicidade (22 por cento do total do programa), distribuídos pelos 62 anúncios incluídos na transmissão, vendidos à razão de 4,5 a 5 milhões de dólares por cada 30 segundos, renderam à CBS mais de 377 milhões de dólares.

 

Na segunda semana, o lugar de honra coube ao programa de entrega dos prémios Grammy de música ligeira, organizados pela National Academy of Recording Arts and Sciences, atribuídos em 15 de Fevereiro, em Los Angeles. A transmissão teve uma audiência média de 25 milhões, a sétima maior de sempre dos Grammy, mas amplamente suficiente para conquistar o primeiro lugar entre os programas mais vistos da semana. 

 

A proeza inédita da CBS nos “ratings” Nielsen, e os bons resultados financeiros da empresa no 4º trimestre de 2015, divulgados pouco antes, foram bem recebidos pelos analistas, mas não bastam para apagar a apreensão causada pelo processo de transição a que a gestão da CBS tem sido submetida.

 

A CBS (Columbia Broadcasting System Corp.), fundada em 1927 por William Paley, em Nova Iorque, foi adquirida pela Westinghouse em 1995 e posteriormente absorvida pela National Amusements, Inc., uma empresa familiar desde a sua fundação no  Massachusetts, em 1936, por Michael Redstone.

 

A CBS é hoje um império mediático com mais de 20 mil empregados, que opera 29 estações de TV e 111 estações de rádio nos E.U.A., além de 24 sites de comércio e comunicações online, e uma grande editora (Simon & Shuster)

 

A empresa-mãe National Amusements, Inc. opera mais de 1.500 cinemas nos E.U.A, Grã-Bretanha e América Latina, factura anualmente cerca de 40 mil milhões de dólares, e é também proprietária da Viacom (Video & Audio Communications), fundada em 2006, dona da Paramount Pictures, MTV, Nickelodeon, Comedy Central, etc.  

 

Sumner Redstone, de 92 anos, filho de Michael Redstone, falecido em 1987, e dono de 80 por cento da National Amusements, Inc. (os restantes 20 por cento são detidos pela filha, Shari Redstone) assumiu a chefia do “holding” em 1967 e posteriormente também da CBS e da Viacom.

 

Conservou essas posições até ao princípio desde mês, após um período algo confuso, durante os últimos dois anos, em que raramente foi visto, o que ocasionou dúvidas àcerca da sua capacidade para continuar a exercer os três cargos de CEO. Redstone renunciou finalmente aos cargos há duas semanas, e Leslie Moonves, seu braço-direito na CBS desde há 21 anos, é o novo CEO desta última.  

 

“A primeira geração constrói, a segunda consolida e a terceira arruína” é uma máxima que alguns analistas gostam de citar, quando comentam o desempenho de empresas familiares. No caso da National Amusements, Inc., a segunda geração (Sumner Redstone) terá planeado escapar a esse destino fatídico, quando concebeu um mecanismo de sucessão destinado a impedir a terceira geração (Shari Redstone) de assumir as rédeas do conglomerado.

 

O plano de sucessão, inspirado talvez no da Hearst, outro importante grupo mediático, fundado por William Randolph Hearst - inspirador do clássico “Citizen Kane” de Orson Welles - consistiu na criação de um “trust” que herdará os 80 por cento de Sumner Redstone por morte deste, e portanto controlará também a CBS e a Viacom, com os cinco netos de Redstone como beneficiários.

 

Os sete “trustees” da National Amusements, Inc.  (entre os quais se contam Shari Redstone e um filho desta, três advogados relacionados com a empresa, um administrador da CBS e Philippe Dauman, novo CEO da Viacom) terão extensos poderes, incluindo o de se sobreporem aos conselhos de administração da CBS e da Viacom, o de nomear outros administradores, e até o de alienarem a empresa.

 

Parafraseando, no melhor plano cai a nódoa. Apesar dos bons resultados da CBS, desavenças públicas entre Redstone, a filha e outros membros da família, e a incerteza quanto ao real papel do patriarca na vida das empresas nos últimos dois anos, acabaram por suscitar dúvidas àcerca da solidez e eficácia do plano de sucessão e do futuro das empresas, e ocasionaram quebras do valor das suas acções, superiores às previsíveis pela correcção em curso na bolsa de Nova Iorque. Recentes declarações públicas de Shari Redstone, de desacordo com a nomeação de Philippe Dauman para o cargo de CEO da Viacom, também não ajudam.  

 

É cedo para arriscar quaisquer previsões quanto ao futuro das empresas do grupo, mas não seria surpreendente se, no mínimo, uma das concorrentes da CBS um dia produzir uma série inspirada na complicada saga palaciana por que tem passado últimamente a lendária criação de William Paley - a casa de onde essa outra lenda do jornalismo americano, Walter Cronkite, em 22 de Novembro de 1963, informou a América da morte do seu presidente: "President Kennedy died at 1 PM Central Standard Time ... 2 o'clock Eastern Standard Time … some 38 minutes ago”.