O jornalista e documentarista australiano John Pilger morreu aos 84 anos, anunciou a sua família numa publicação na rede social X, antigo Twitter.

"É com grande tristeza que a família de John Pilger anuncia que ele morreu ontem, 30 de dezembro de 2023, em Londres, aos 84 anos. O seu jornalismo e os seus documentários foram celebrados em todo o mundo, mas para a sua família ele era simplesmente o pai, o avô e o parceiro mais espantoso e amado. Descanse em paz", lê-se na mensagem.

Ao longo de sua carreira, Pilger foi um crítico incisivo da política externa ocidental e dedicou atenção especial ao tratamento dos indígenas australianos. Na sua última coluna para o britânico "The Guardian", em 2015, condenou a expulsão dos aborígenes “das terras onde as suas comunidades vivem há milhares de anos".

Pilger nasceu em Bondi, Nova Gales do Sul, mas mudou-se para o Reino Unido na década de 1960, contribuindo para o “Daily Mirror”, o programa de investigação "World in Action" da ITV e a Reuters. Cobriu conflitos em locais como Vietname, Camboja, Bangladesh e Biafra e foi nomeado jornalista do ano em 1967 e 1979. 

Além do jornalismo, Pilger dedicou-se também à realização de documentários, criando mais de 50 filmes e vencendo vários prémios, incluindo menções honrosas nos Baftas.

Em 1979, o filme da ITV “Year Zero: The Silent Death Of Cambodia” revelou a extensão dos crimes cometidos pelos Khmers Vermelhos, no poder. Pilger ganhou um prémio Emmy pelo seu documentário de 1990 da ITV, “Cambodia: The Betrayal”.

Entre os seus documentários consta também “Thalidomide: The Ninety-Eight We Forgot” (1974), sobre a campanha para a indemnização das crianças depois de terem sido levantadas preocupações sobre defeitos congénitos de futuras mães que tomavam o medicamento.

Pilger realizou vários filmes sobre os indígenas australianos, como “The Secret Country: The First Australians Fight Back”, em 1985, e “Utopia”, em 2013, além de ter escrito um livro bestseller, “A Secret Country,” no qual explorava a política e as políticas da Austrália.

O seu último filme, “The Dirty War on the National Health Service”, de 2019, analisava a ameaça da privatização e da burocracia para o NHS. 

Em 2003, Pilger recebeu o prémio Sophie por "30 anos a desmascarar as mentiras e a propaganda dos poderosos, especialmente no que se refere a guerras, conflitos de interesses e exploração económica de pessoas e recursos naturais".

Pilger foi um grande apoiante de Julian Assange e visitou o fundador da WikiLeaks na embaixada do Equador em Londres.

Em 2005, Pilger editou o livro Tell Me No Lies: Investigative Journalism and its Triumphs, no qual resumiu os seus valores jornalísticos. "O poder secreto detesta os jornalistas que fazem o seu trabalho, que afastam os ecrãs, espreitam por detrás das fachadas, levantam pedras", disse. "O opróbrio do alto é o seu distintivo de honra."