O Ministério da Defesa de Taiwan alertou os media locais para o perigo de espalharem a desinformação, nomeadamente sobre os recentes exercícios militares chineses.

Recentemente, Pequim fez três dias de exercícios militares perto de Taiwan, como retaliação sobre o encontro da presidente deste país, Tsai Ing-wen, com o presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, nos EUA.

Os analistas militares e civis de Taiwan verificaram que o país também foi alvo de uma guerra de informação. “O exercício militar do ano passado e o exercício militar deste ano usaram uma combinação de informações e acções militares para afectar a nossa moral”, disse um porta-voz da defesa.

O Ministério da Defesa diz que não pode descartar as “táticas de guerra cognitiva” durante os exercícios chineses.

Taiwan está classificado como o maior alvo de desinformação de guerra cibernética estrangeiro, principalmente por parte da China, o que tem acontecido há quase uma década.

“Comparando com o ano passado, desta vez os métodos de desinformação e manipulação de guerra cognitiva do PCC são mais refinados, e as tácticas já não usam os métodos de edição de fotos como da última vez”, disse o porta-voz da defesa, referindo-se, provavelmente, a uma imagem do Exército Popular de Libertação da China (PLA) bastante partilhada, que foi alterada para sugerir que um navio estaria atracado na costa de Taiwan.

O Ministério da Defesa diz que melhorou os esforços para “combater os ataques de operações cognitivas e desinformação”. Além de emitir refutações ao que diz serem notícias falsas, também aumentou a frequência de relatórios sobre o PLA durante os exercícios.

“O grande objectivo do ataque de desinformação é fazer com que as pessoas percam a confiança no governo”, diz Yisuo Tzeng, do instituto de pesquisa de defesa e segurança nacional (INDSR) em Taiwan. Tzeng diz que a desinformação e a propaganda não transformam, necessariamente, as pessoas em agressoras, mas lança “dúvidas acerca do seu próprio sistema democrático e dos seus aliados democráticos”.

O Doublethink Lab, uma ONG de monitorazação cibernética com sede em Taiwan, diz que ainda está a analisar os ataques da semana passada, mas detectou esforços concentrados de desinformação, durante a viagem de Tsai aos Estados Unidos. “Vimos algumas actividades suspeitas, mas não ficou claro se foi coordenado”, diz o cofundador do Doublethink Lab, TtCat.

O conselho de assuntos de Taiwan também expressou preocupação com os media do país, e em amplificarem a mensagem do PLA, espalhando medo entre o povo e contribuindo para a instabilidade interna.

Alguns jornalistas taiwaneses que falaram com o Guardian dizem que grande parte da indústria, especialmente veículos impressos e online, sofreu com uma tempestade perfeita de política hiper partidária, colaboradores sobrecarregados e com poucos recursos e com uma cultura que valoriza manchetes e cliques sobre os factos. “É uma fraqueza na nossa indústria de notícias. Não valorizamos tanto os factos”, afirma um veterano jornalista de investigação taiwanês, que afirma que no país, querem ser líderes “com qualquer coisa que seja sensacional e, que se não estiver muito errada, vão publicá-la”, o que significa que “Taiwan corre o risco de causar a  sua própria desestabilização social.”