A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou um relatório, sobre as crescentes ameaças ao jornalismo na periferia saheliana da África.

A Asociación de la Prensa de Madrid (APM), com quem o CPI mantém parceria, edita um artigo com alguns pontos-chave sobre este estudo.

"No lugar de um jornalista no Sahel", é o título do documento, com quarenta páginas, que detalham a deterioração das condições para o exercício do jornalismo nesta região do mundo, que está a tornar-se numa "zona sem informação".

Nos últimos dez anos, cinco jornalistas foram mortos no Sahel e outros dois desapareceram recentemente. Para além disso, centenas de jornalistas foram ameaçados e não podem exercer a sua profissão sem arriscar as suas vidas.

Colocar-se no lugar de um jornalista no Sahel, significa enfrentar gangues radicais armados, cada vez mais presentes, que não hesitam em assassinar jornalistas ou sequestrá-los para os utilizar como moeda de troca. Nesse contexto de degradação da segurança, os repórteres também têm que lidar com poderes instaurados por golpes de estado, que impõem a sua concepção de jornalismo e os seus “mandatos patrióticos” à profissão. Além disso, são obrigados a conviver com a milícia do Grupo Wagner, cujo poder sobre o sector de informação regional é cada vez mais palpável, bem como a evitar as armadilhas dos mercenários da desinformação, explica este estudo.

O relatório destaca dez pontos-chave sobre esta situação, na região do Sahel, referidos no artigo da APM:

1. Esta é uma região mortal para os jornalistas: desde a execução, pelos seus sequestradores, no Mali em 2013, da jornalista Ghislaine Dupont e do técnico Claude Verlon, (ambos da Radio France Internationale), três jornalistas foram mortos na região: Obed Nangbatna, da agência nacional rede de televisão Télé Tchad, no Chade em 2019; assim como o repórter espanhol David Beriain e o seu parceiro de camera, Roberto Fraile, em 2021, quando ambos preparavam um documentário sobre a caça ilegal, junto com uma unidade especializada, no leste de Burkina Faso.

2. Existe risco máximo de sequestro: sequestrado em Gao, a 8 de abril de 2021, por um grupo armado afiliado à Al Qaeda, o jornalista francês Olivier Dubois foi libertado a 20 de março de 2023, após 711 dias de cativeiro. No entanto, dois outros jornalistas do Mali, Hamadoun Nialibouly e Moussa M'Bana Dicko, continuam desaparecidos.

3. Existe um espaço cada vez mais reduzido para cobrir as notícias: a expansão de áreas proibidas, ou de difícil acesso para jornalistas, é avassaladora no Sahel. Além das ameaças directas à sua integridade física, alguns Estados impõem obstáculos administrativos abusivos.

4. A Expulsão de jornalistas e suspensão de meios de comunicação internacionais, é uma realidade: no Mali e em Burkina Faso, as autoridades militares não hesitam em expulsar jornalistas e suspender meios de comunicação. Os canais franceses RFI e France 24 são as principais vítimas.

5. Há a ameaça dos mercenários da informação: a desinformação vive um boom no Sahel, transformado em laboratório experimental para "mercenários da desinformação", que operam sobretudo nas redes sociais, mas também nas juntas militares no poder.

6. Há uma pressão editorial directa: a pretexto de mandatos patrióticos (no Mali), ou notas com orientações aos meios de comunicação (no Benin), as autoridades no poder tentam moldar a informação à vontade e controlar as histórias dos media.

7. Vive-se o fim das leis de protecção: a deterioração da segurança corroeu os avanços legislativos que, entre 1990 e 2010, permitiram estruturar, gradualmente, o sector dos media e proteger o exercício da profissão jornalística nos países do Sahel.

8. Há que combater a desinformação, em conjunto: apesar deste ambiente difícil, novas iniciativas surgiram ao nível local, para combater a desinformação. Algumas redacções desenvolveram áreas de verificação e projectos como Mali Check, Africa Check ou DésinfoxTchad tentam combatê-lo.

9. Os jornalistas organizam as suas próprias redes: novas iniciativas como os estudos Yafa, Kalangou e Tamani, cobrem notícias nas diferentes línguas locais faladas no Sahel, oferecendo informações relevantes às populações atingidas pelas várias crises.

10. Proteger o jornalismo no Sahel é possível: a RSF também recomenda que a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e a CEMAC (Comunidade Económica e Monetária da África Central) elaborem um código de conduta para a segurança dos jornalistas em zonas de conflito.

O relatório na íntegra, encontra-se aqui, neste link.