A Independent Press Standards Organization (IPSO), o maior regulador independente da indústria de jornais e revistas no Reino Unido, concluiu que Jeremy Clarkson discriminou a duquesa de Sussex, Meghan Markle. O regulador afirma que o jornalista usou um artigo, na sua coluna no The Sun, para descrever o seu “ódio visceral” por ela, com uma série de hipérboles sexistas.

Clarkson sugeriu que Meghan usou “vívidas promessas de quarto” para transformar o príncipe Harry num “warrior of woke”, ou seja, um guerreiro contra as injustiças sociais e raciais.

A IPSO concluiu que, colectivamente, todas as referências são discriminatórias contra Meghan, enquanto mulher.

Por este motivo o regulador ordenou que o The Sun publicasse uma declaração a explicar que o seu colunista violou as regras anti-discriminação contra Meghan.

O jornal já publicou a declaração determinada pelo regulador, onde são explicados os factos, entre o que foi escrito no artigo e as relativas considerações da IPSO.

O artigo de Clarkson atraiu mais de 25 mil reclamações, quando foi publicado, em dezembro passado.

A coluna original foi retirada da internet no ano passado, após dias de publicidade negativa, altura em que Clarkson afirmou que o que disse sobre Meghan ser envergonhada publicamente, era uma referência a uma cena do “Game of Thrones”, que foi mal interpretada.

Um porta-voz do The Sun disse que o jornal se arrependeu de publicar a coluna de Clarkson, destacando o grande número de leitoras do jornal, bem como as suas campanhas sobre violência doméstica e sobre o custo que acarreta ser uma jovem mãe.

A decisão da IPSO mostra que o The Sun tentou, inicialmente, rejeitar as alegações contra Clarkson, dizendo ao regulador da imprensa que o autor era uma pessoa polémica, “conhecida por empregar linguagem hiperbólica” e argumentando que os comentários de Clarkson sobre Meghan “eram críticas à sua conduta” e não sobre a sua identidade. Segundo a argumentação do jornal, ver sexismo ou racismo numa coluna que não mencionasse explicitamente o sexo ou a raça da duquesa exigiria “adivinhação psíquica” por parte do leitor.

Em resposta, o regulador enfatizou que tal situação permitia que os jornalistas escrevessem artigos “mesquinhos ou cruéis” que fossem “de mau gosto ou ofensivos” em nome da liberdade de expressão. Mas, concluiu que o número coletivo de ataques às mulheres na coluna de Clarkson, se transformou em discriminação.

Charlotte Dewar, directora-executiva da IPSO, disse que “o código de conduta dos editores protege o direito dos comentadores a desafiar, chocar, ser satírico e entreter", mas afirma que "a imprensa deve evitar referências discriminatórias a um indivíduo”.

No entanto, a IPSO inocentou Clarkson de discriminar Meghan com base na raça. O regulador disse que usar a frase “warrior of woke” no contexto da duquesa, não representa uma referência pejorativa à cor da sua pele, porque “woke” é, agora, uma palavra usada para significar muito mais do que activismo só baseado em raça.

Dewar disse, num programa de rádio, que não havia “o suficiente para estabelecer, no nível exigido, que houve uma violação do código nesse ponto”.

Pouco depois da publicação do artigo, Clarkson enviou um pedido de desculpas directamente ao príncipe Harry e Meghan, bem como às empresas para as quais trabalhava.

Em resposta, os duques de Sussex acusaram Clarkson de escrever e lucrar com artigos que "espalham retórica de ódio, perigosas teorias da conspiração e misoginia", rejeitando as suas desculpas.