Projecto contra a desinformação russa vai nascer em Portugal

O analista canadiano de política internacional Michael Bociurkiw, com ascendência ucraniana, revelou à Lusa que irá nascer um projecto de combate à desinformação russa, em Portugal.
Bociurkiw, que é comentador de estações internacionais como a CNN e BBC, diz que a ideia envolve encontrar parceiros e financiamento de fontes privadas e de entidades como a União Europeia.
O projecto, a ser lançado brevemente, servirá para combater o “alto grau de manipulação da desinformação russa”, aproveitando “a enorme quantidade de jornalistas ucranianos que foram deslocados pela guerra para criar um centro de media em Lisboa, que criará conteúdo factual muito atraente para uso mundial”, refere.
O nosso país está a ser considerado, porque está estrategicamente localizado, pelo seu fuso horário e ainda pelo “seu papel maravilhoso” em termos de acolhimento de refugiados ucranianos.
“Pelo que vi nas minhas visitas aqui, há talentos incríveis disponíveis para colaborar, então é um projecto muito empolgante”, explica Michael Bociurkiw, que estará a pensar em mudar-se para Portugal, onde esteve durante quatro meses a escrever um livro na altura da pandemia de Covid-19.
Michael Bociurkiw, diz que a “incrível hospitalidade”, faz os ucranianos “sentirem-se muito em casa”.
De início o projecto irá ter como idioma, o inglês, progredindo depois para português e espanhol, com histórias impressas, vídeos e áudios, publicados na Internet e nas redes sociais.
O comentador considera ainda, que este projecto poderá dar “algum prestígio ao país”, porque pode transformar-se numa entidade que ajuda “a reequilibrar o que estamos a enfrentar agora, que é apenas um incrível esforço russo para distorcer a realidade de tudo o que está a acontecer”.
Segundo o analista, que teve uma educação ucraniana, com um “conhecimento muito profundo” da história e cultura local, o que se está a passar actualmente é uma repetição da história, como o roubo de cereais, os tempos dos ‘gulag’, as deportações forçadas, ou a tentativa de destruição religiosa.
“Os russos estão a fazer manipulação e desinformação, distorcendo os factos numa escala absolutamente maciça”, afirma o comentador.
Com a invasão da Ucrânia, a desinformação “subiu para níveis ainda mais altos, mais amplos e mais sofisticados”, diz, dando o exemplo do país onde nasceu, quando o governo canadiano percebeu que houve influência russa no chamado protesto dos camionistas, que deixou Otava paralisada durante várias semanas.
“Descobriu-se naquela época que ‘trolls’ russos, contas russas no Twitter e assim por diante, estavam a operar de modo muito maciço para criar disrupção e narrativas falsas”, refere, aludindo também ao facto de que agora o governo canadiano tem muito dinheiro no orçamento para combater este tipo de acções e manipulações em eleições.
O analista faz, ainda, um elogio à “campanha corajosa da Ucrânia, extremamente bem sucedida” nas redes sociais, bem como à criação de centros de media para jornalistas locais e estrangeiros, com a capacidade de gerar informação, onde o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é “o director de ‘marketing.”