Numa declaração transmitida na sede da ONU, na véspera do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, Antonio Guterres referiu que os media estão sob ataque “por todos os cantos do mundo”.

“A verdade é ameaçada pela desinformação e pelo discurso de ódio que procuram confundir os limites entre facto e ficção, entre ciência e conspiração”, disse o líder da ONU, numa mensagem de vídeo.

“Pelo menos 67 trabalhadores dos meios de comunicação foram assassinados em 2022 – um aumento inconcebível de 50% em relação ao ano anterior. Quase três quartos das mulheres jornalistas sofreram violência online e uma em cada quatro foi ameaçada fisicamente”, lembrou Guterres.

O secretário-geral enfatizou que a liberdade de imprensa "é a base da democracia e da justiça", a qual está ameaçada.

Guterres disse que o colapso da indústria dos media, que levou ao encerramento de agências de notícias locais e à consolidação dos meios de comunicação social "nas mãos de poucos", bem como um aumento de leis e de regulamentos nacionais que sufocam os jornalistas, estão a ameaçar a liberdade de expressão.

“Enquanto isso, jornalistas e colaboradores dos meios de comunicação são directamente visados online e offline enquanto realizam o seu trabalho fundamental. São frequentemente assediados, intimidados, detidos e presos”, refere o secretário-geral.

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi proclamado pela primeira vez, pela assembleia geral da ONU, em dezembro de 1993 e autorizado a ser celebrado a 3 de maio.

Audrey Azoulay, directora-geral da UNESCO, partilha o mesmo sentimento de Guterres sobre a situação actual. Numa mensagem publicada no site da organização, Azoulay admite que o advento da era digital mudou todo o cenário da informação. Embora as plataformas digitais tenham fornecido novas formas de expressão e informação, a directora diz que nos “encontramos numa nova encruzilhada" e que o "nosso caminho actual está a afastar-nos do debate público informado... em direcção a uma polarização ainda maior". Os modelos de negócio das plataformas digitais são baseados no número de cliques, o que "muitas vezes favorece o sensacionalismo sobre a verdade", acrescentou.

O especialista em media da UNESCO, Guilherme Canela De Souza Godoi citou, numa entrevista, as estatísticas da organização divulgadas no ano passado, as quais indicam que 85% da população mundial sentiu a redução da sua liberdade nos últimos cinco anos. Além disso, uma pesquisa recente da UNESCO descobriu que jornalistas que cobriam protestos em 65 países foram atacados, assinalou.

António Guterres disse que o mundo se deve unir para “acabar com as ameaças, ataques e prisões de jornalistas por fazerem o seu trabalho, acabar com as mentiras e a desinformação e acabar com os ataques contra a verdade e a quem a proclama.”.  

“Quando os jornalistas defendem a verdade, o mundo está ao seu lado”, conclui o líder da ONU.