A Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) denunciou uma “grave violação da liberdade de imprensa e da autonomia editorial” na Televisão de Cabo Verde (TCV), após a suspensão da sua directora, Bernardina Ferreira, por decisão do conselho de administração da Rádio e Televisão de Cabo Verde (RTC). 

Segundo comunicado divulgado pela AJOC, a jornalista foi suspensa por 45 dias, sem remuneração, numa medida que a associação classifica como um “acto de retaliação” relacionado com as queixas que Ferreira apresentou sobre ingerências da administração na linha editorial da TCV. Estas denúncias já haviam sido confirmadas pela Autoridade Reguladora da Comunicação (ARC) em duas deliberações, datadas de 25 de Agosto e 2 de Setembro, que reconheceram a existência de interferência indevida na autonomia jornalística da estação pública. 

Em concreto, as queixas de Bernardina Ferreira diziam respeito, por um lado, à emissão de “spots de propaganda governamental” e, por outro, à contratação de um programa externo sem o conhecimento da direcção de informação. 

No comunicado, a AJOC exige “uma intervenção imediata do Conselho Independente da Comunicação Social, com vista à reposição da legalidade e ao restabelecimento da normalidade institucional na RTC”, apelando igualmente ao Governo cabo-verdiano e às demais entidades competentes para que “cumpram o seu dever constitucional de garantir a independência dos órgãos públicos de comunicação social”. 

A associação manifesta também solidariedade com a jornalista Bernardina Ferreira e os demais profissionais da RTC “que têm sido alvo de pressões, perseguições e tentativas de silenciamento”, denunciando uma situação que considera representar uma “ingerência política e administrativa inaceitável na esfera editorial da televisão pública”. 

Para a AJOC, o caso ultrapassa uma simples disputa de gestão interna: “Não estamos perante um conflito de gestão, isto é claramente um ataque frontal à liberdade de imprensa e à independência profissional dos jornalistas em Cabo Verde”. 

O comunicado sublinha que “um dos administradores da RTC, ele próprio jornalista, não subscreveu as decisões do conselho de administração”, o que, segundo a AJOC, demonstra que há, dentro da própria estrutura, consciência da gravidade e da ilegitimidade dos actos agora confirmados. 

(Créditos da imagem: Televisão de Cabo Verde)