O Índice Mundial da Liberdade de Imprensa de 2024, divulgado no passado dia 3 de Maio, evidencia o aumento da interferência política na prática jornalística em todo o mundo. Portugal subiu duas posições e ocupa agora o sétimo lugar, considerando-se que a liberdade de imprensa no país está em “boa situação”.

A classificação mundial é sistematizada anualmente pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e avalia as condições para o exercício do jornalismo em 180 países e territórios. O mapa pode ser consultado no site da RSF.

O Índice está organizado em cinco indicadores: político, económico, legislativo, sociocultural e de segurança.

O elevado número de violações contra jornalistas e a imprensa em Gaza é um dos aspectos mais relevantes da análise deste ano, com mais de 100 repórteres palestinianos mortos pelo exército israelita, segundo a RSF. A Palestina ocupa o 157.º lugar no índice e está entre os últimos dez no indicador de segurança.

No panorama global, mais de metade da população vive no “vermelho”, territórios em que se considera que a situação da liberdade de imprensa é “muito grave” relativamente. Estes são países “em que trabalhar como jornalista significa arriscar a vida ou a liberdade”, descreve a RSF. Cinco dos dez países mais populosos têm esta classificação: Paquistão (152.º), Índia (159.º), Rússia (162.º), Bangladesh (165.º) e China (172.º).

Menos de 8% da população mundial vive em países em que a situação é considerada “boa” ou “satisfatória”.

Os cinco países no topo da lista são todos europeus: Noruega (1.º), Dinamarca (2.º), Suécia (3.º), Países Baixos (4.º) e Finlândia (5.º). Portugal aparece em sétimo, à frente da Irlanda (8.º), Suíça (9.º) e Alemanha (10.º).

Os cinco países com menos liberdade de imprensa são o Irão (176.º), Coreia do Norte (177.º), Afeganistão (178.º), Síria (179.º) e Eritreia (180.º).

Portugal com liberdade de imprensa “robusta”

De acordo com o Índice da RSF, os jornalistas em Portugal “podem reportar sem restrições”, embora enfrentem alguns “desafios económicos, judiciais e de segurança”.

Além da referência aos baixos salários e à compra da Global Media pelo “misterioso” fundo de investimento com sede nas Bahamas, a organização menciona algumas “ameaças” ocasionais a jornalistas e a degradação da confiança nos jornais por parte da população mais jovem.

Quanto às áreas analisadas, Portugal ocupa o 3.º lugar nos indicadores político e sociocultural, o 10.º nos indicadores económico e legislativo, e o 15.º em segurança. De forma geral, a liberdade de imprensa no país é considerada “robusta”.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) registou “a subida de Portugal no ranking da Liberdade de Imprensa”, comentando que é algo que “não pode deixar de ser encarado como positivo”, disse em comunicado. “Afinal, Portugal aparece a ‘verde’ num mapa de 180 países, em que a maioria está no vermelho ou no laranja”.

Pressão política no topo das preocupações à escala mundial

Segundo a RSF, o indicador político foi o que registou a maior queda; na média global, 7,6 pontos.

A organização alerta para “a tendência preocupante” de haver cada vez mais “estados e outras forças políticas” responsáveis pela redução dos níveis de protecção da liberdade de imprensa, avisa Anne Bocandé, directora editorial da RSF.

Em 138 países, isto é, mais de três quartos dos países classificados no Índice, a maioria dos inquiridos reportou que os actores políticos “estiveram frequentemente envolvidos em propaganda ou campanhas de desinformação”, refere a organização.

Tem havido também uma tentativa de domínio do ecossistema mediático por elementos que querem condicionar a informação, sejam agentes políticos através dos meios de comunicação estatais, sejam empresários que adquirem e investem em empresas de média com o objectivo de as controlar.

Alguns exemplos em vários continentes salientados pela RSF:

  • Na Argentina (66.º lugar, menos 26 do que no ano passado), o presidente, Javier Milei, ordenou o encerramento da maior agência noticiosa do país.
  • Na Nigéria (112.º) e na República Democrática do Congo (123.º) as eleições são muitas vezes acompanhadas por violência contra os jornalistas.
  • A China (172.º), além de ser o país que mais detém jornalistas, exerce um controlo apertado sobre os canais de partilha de informação, implementa políticas de censura e vigilância, e controla a disseminação de opiniões contrárias ao regime.
  • Em Itália, país que caiu cinco posições, estando agora em 46.º, um dos membros da coligação no poder mostrou interesse em comprar a segunda maior agência noticiosa do país (AGI).