Num artigo publicado no Pressgazette, Charlotte Tobitt aborda a mudança da Meta (proprietária do Facebook) em relação às notícias e a possibilidade de os editores lucrarem através de assinaturas online na plataforma. 

Apesar de ter interrompido o financiamento directo e a partilha de receitas publicitárias com os editores, a Meta pode ainda desempenhar um papel crucial na venda de assinaturas.

“Há mais de dois anos que a Meta deixou de ser ‘amiga’ das notícias, pondo fim a um longo período de sedução dos editores que criam grande parte do conteúdo partilhado pelos seus utilizadores”, escreve.

“Mas, apesar de ter deixado de conceder subsídios aos editores e de partilhar com eles as receitas da publicidade, o Meta pode ainda ter a chave para a venda de assinaturas online de alguns títulos”, defende.

O exemplo destacado é o “Pulman's Weekly News” – uma pequena marca de notícias com sede em Axminster, Devon – que conseguiu atrair mais de 500 assinantes pagantes (de um total de 1700 seguidores no Facebook) em menos de um mês, após activar as subscrições na plataforma. Isto representa uma receita mensal significativa, especialmente considerando que a Meta não cobra taxas sobre essas transações até pelo menos o final de 2024.

Isto sugere um total de, pelo menos, 1.745 libras (cerca de 2.017 euros) mensais só do Facebook.

"Sempre fui um defensor da utilização do Facebook e faz todo o sentido estar no centro da arena digital mais popular da actualidade, que é onde a maioria do nosso público e dos nossos leitores já tem acesso à conta, em vez de esperar que os leitores criem contas separadas numa plataforma autónoma ou num sistema de paywall", afirmou Duncan Williams.

Williams dirige o Pulman's Weekly News, fundado em 1857, desde 2018, data em que foi encerrado. Anteriormente, fez manchetes quando comprou a série de jornais View From, de West Country, por uma libra, duas semanas depois de ter sido encerrada pelo anterior proprietário.

"Para ser sincero, a minha própria família pensa que sou louco", afirmou. "O meu irmão mais novo fez uma fortuna no sector bancário e acha que sou louco por investir todo o meu dinheiro nos meios de comunicação locais. Mas continuo a acreditar nesta indústria, e sempre acreditarei”, conta.

Williams destaca a importância do Facebook como a principal arena digital para notícias locais, descrevendo os grupos do Facebook como "o novo jornal local e acredita que as páginas no Facebook têm mais valor para os editores locais do que sites autónomos e destaca a facilidade de acesso que o Facebook oferece ao público.

Um relatório do “Charitable Journalism Project”, publicado em 2022, referia que o Facebook era "de longe o mais importante" serviço de comunicação social para informação noticiosa local e que as páginas e grupos locais preenchiam uma lacuna em muitas comunidades. 

Há anos que Williams publica directamente na página do “Pulman”, em vez de dar às pessoas um “link” a pedir-lhes que cliquem – o site imita um “feed” de uma rede social, em vez de ter uma apresentação tradicional. Trabalha com os anunciantes para os colocar na própria página e apoiar este estilo de publicação.

Williams argumenta que a estratégia de publicação directa no Facebook, em vez de redireccionar para um site externo, é mais eficaz para atender aos critérios de elegibilidade da Meta, que incentiva conteúdo específico para a plataforma.

O Facebook introduziu pela primeira vez as subscrições, anteriormente conhecidas como subscrições de fãs, em 2018. Mas nunca vingaram entre os editores de notícias e podem agora representar uma oportunidade para recuperar algo da plataforma.

Para ser elegível, uma página do Facebook deve atender a certos critérios, incluindo ter 10 mil seguidores ou pelo menos 250 visualizações de retorno e ter atingido 50 mil interacções de “posts” ou 180 mil minutos de visualização nos 60 dias anteriores e estar em conformidade com as políticas de monetização do Facebook.

Williams disse: "Penso que, assim que se isto for dado a conhecer à maioria dos editores, eles vão querer experimentar".

O Pulman's também é financiado por uma combinação de anúncios publicitários no Facebook, boletins electrónicos e prestação de serviços de design e gestão de redes sociais para empresas locais. Williams complementa-o com o seu jornalismo freelance e com a criação de vídeos comerciais para publicidade nas redes sociais.

Os subscritores da página Pulman's no Facebook têm acesso a um grupo de discussão dedicado aos subscritores, a publicações exclusivas, a vídeos, incluindo transmissões em directo, fotografias, sondagens e a um emblema de subscritor junto aos comentários e a cinco comentários em destaque por mês em vídeos em directo.

De acordo com o Reuters Institute Digital News Report, o Facebook ainda é a plataforma de redes sociais mais utilizada para notícias, apesar de uma diminuição em comparação com anos anteriores. A Geração Z, no entanto, tem migrado para outras plataformas como Instagram, TikTok e meios de comunicação visual “mobile-first”.

Mas, mesmo com a mudança nos padrões de uso, o Facebook ainda representa uma parte significativa do tempo online, e os editores podem encontrar oportunidades lucrativas, como as subscrições, para aumentar suas receitas na plataforma. Isto é particularmente relevante num contexto em que serviços como Substack demonstraram a disposição das pessoas em pagar por conteúdos e comunidades de interesse.