A organização Zero Carbon Analytics publicou um guia, a pensar nos jornalistas e outros profissionais, com orientações para uma leitura crítica dos relatórios de sustentabilidade das empresas, identificando 11 áreas para onde se deve olhar para detectar técnicas de “greenwashing”.

Relativamente a cada área, o guia, intitulado How to spot greenwashing in a sustainability report, sugere perguntas que ajudam a verificar mais rapidamente os valores cruciais e as práticas das empresas.

O termo “greenwashing”, reconhecido pelas Nações Unidas e que na terminologia oficial da União Europeia é traduzido por “ecomaquilhagem”, significa que uma entidade “se apresenta como sustentável ou amiga do ambiente, apesar de os seus produtos e as suas acções concretas não corresponderem a essas afirmações”, pode ler-se no guia. O “greenwashing” está presente na comunicação da empresa e pode assumir várias formas, entre as quais, publicidade falsa e etiquetas enganadoras.

O guia da Zero Carbon Analytics disponibiliza links para listas de classificação das empresas no que diz respeito às estratégias de combate às alterações climáticas e sugere a consulta destas listas como primeiro passo para uma pesquisa.

De seguida, explicam-se, a título de exemplo, três áreas abordadas no guia, que pode ser consultado directamente no site ou em ficheiro PDF.

Emissões de scope 1, 2 e 3

  • “Os relatórios de sustentabilidade frequentemente são desenhados para mostrar o impacto ambiental positivo da empresa. Contudo, esses impactos têm de ser corroborados pelos dados das emissões”, descreve o guia.
  • A informação sobre as emissões costuma surgir numa tabela anexa (em alternativa, pode procurar-se pela palavra “scope” no relatório).
  • Existem três categorias de emissões, estabelecidas pela protocolo GHG (Greenhouse Gas):
    • Emissões de scope 1: são as chamadas “emissões directas”, derivam directamente dos processos de produção, por exemplo, quando se queima combustível para manter um forno em funcionamento.
    • Emissões de scope 2: chamam-se “emissões indirectas” e correspondem a consumo de energia, nomeadamente a electricidade comprada ou consumida para manter as operações da empresa.
    • Emissões de scope 3: são todas as emissões indirectas não incluídas no scope 2. Podem representar 90% do total de emissões de uma empresa. Deste scope fazem parte, as emissões ocorridas a montante e a jusante da cadeia de valor, como por exemplo viagens de negócios e produção feita por parceiros fornecedores.
  • O guia alerta para o seguinte: “Frequentemente, as empresas dão relevância à redução de emissões conseguida nas duas primeiras categorias de scope, uma vez que estas normalmente representam uma porção mais pequena do total de emissões e a sua redução é mais fácil de alcançar quando comparada com o scope 3”.  
  • É preciso olhar para as chamadas emissões “CO2e”, que têm em conta todas as emissões equivalentes ao dióxido de carbono (CO2). Se a empresa não usa a medida “CO2e”, isso quer dizer que estão a ser excluídos alguns gases com efeito de estufa.
  • Dois exemplos de perguntas úteis no que diz respeito a esta primeira área: “As emissões totais da empresa nos scopes 1, 2 e 3 têm aumentado?” e “A empresa omite dados sobre CO2e ou outras emissões de gases com efeito de estufa, comunicando apenas as emissões CO2?”

Omissão de partes do scope 3

  • Embora seja difícil controlar todas estas emissões, já que algumas delas dizem respeito a actividades desenvolvidas por terceiros, as empresas podem “alterar os produtos que oferecem, escolher fornecedores menos poluidores ou colaborar com os parceiros para reduzir as emissões”.
  • Estão identificadas 15 categorias para as emissões de scope 3, de que são exemplo os produtos e serviços adquiridos, a distribuição de produtos, os resíduos gerados nas operações, as viagens de negócios e os investimentos.
  • Normalmente, as empresas especificam quais as categorias que estão incluídas no relatório de sustentabilidade, pelo que esta é uma boa maneira de perceber se a empresa está a excluir alguma área e a deixar de lado informação.
  • Exemplo de pergunta útil nesta área: “Quando a lista de emissões do scope 3 está incompleta, a empresa explica como irá fazer estas medições no futuro?”

Ano de referência

  • “Quando uma empresa promete reduzir as suas emissões, é preciso decidir qual é o ponto de referência”, lembra o guia.
  • O ano que é usado como referência já é de alguma forma informativo. Por exemplo, reduzir emissões em relação a 2020, poderá significar (dependendo do sector de actividade) um objectivo ambicioso, uma vez que nesse ano as emissões baixaram muito devido ao confinamento global causado pela pandemia.
  • Algumas empresas comparam a redução de emissões com projecções futuras de qual seria o nível de emissões caso a empresa não adoptasse nenhuma medida para mitigar o impacto climático. “Estes métodos são uma forma de permitir que a empresa continue a emitir mais do que em anos anteriores”, adverte o guia.
  • Exemplo de pergunta útil nesta área: “O ano de referência teve níveis particularmente altos de emissões?”

Além destas três áreas, o guia aborda ainda temas como os objectivos para alcançar o nível zero de emissões, as energias renováveis e o mercado de compensação das emissões de carbono.

No final, o documento sistematiza todas as perguntas que ajudam a orientar a leitura dos relatórios, além de deixar indicação de outros recursos úteis nesta área.

(Créditos da fotografia: Brian Yurasits no Unsplash)