Cobertura jornalística na Ucrânia inclui histórias de reconstrução

Algumas redacções na Ucrânia estão a dedicar-se à cobertura dos casos de reconstrução das comunidades no contexto da guerra, com vista a complementar as notícias habituais com mensagens de esperança e de iniciativa, descreve um artigo publicado no International Media Support (IMS).
A abordagem não pretende substituir a cobertura tradicional necessária sobre o conflito. “Vejo isto como um contributo do jornalismo para trazer esperança e incentivar um sentido de participação numa sociedade em que as pessoas estão cansadas das notícias sobre a guerra — mesmo na Ucrânia”, diz Anastasia Rudenko, editora-chefe da publicação ucraniana Rubryka.
O jornal digital Rubryka, que conta com redacções descentralizadas pelo país para se poder manter activo quando as infraestruturas numa cidade são destruídas pelos ataques russos, recebe actualmente no seu site dois milhões de visitantes mensais.
Esta publicação, fundada em 2018, é especializada em jornalismo de soluções, e Anastasia Rudenko é formadora acreditada pela Solutions Journalism Network.
“Mas como é uma reportagem orientada para as soluções?” Anastasia Rudenko partilha o exemplo de uma peça sobre uma localidade que foi libertada do controlo das forças militares russas.
“As pessoas queriam voltar. As casas estavam muito destruídas e as pessoas queriam reconstruí-las — mas tinham muito poucos meios com que trabalhar. Um grupo de voluntários chamado ‘Corajosos para Reconstruir’ soube da situação e decidiu começar a trabalhar”, conta Anastasia Rudenko.
“Em vez de descrevermos as casas destruídas, a nossa cobertura centrou-se na ajuda que estes voluntários deram à população local e em como encontraram pessoas para fazer este trabalho”, continua. Ainda assim, a reportagem não deixou de descrever os obstáculos encontrados, tais como a falta de financiamento e o cansaço extremo das equipas.
Além de seguir as regras tradicionais do jornalismo, Anastasia Rudenko partilha que a equipa tem uma regra quando publica artigos sobre soluções: “Temos de escrever de forma que outros consigam replicar a iniciativa noutros sítios”.
Outro exemplo é o de uma história sobre a reconstrução de uma biblioteca com o esforço da população local. Neste caso, o artigo foi publicado pelo jornal online ShoTam, direccionado para o público jovem.
“Depois de publicarmos a história sobre a biblioteca, muitas pessoas perguntaram como podiam ajudar. Isso é o que o ShoTam quer: fazer pequenas diferenças e inspirar. Mesmo em momentos horríveis, coisas boas acontecem”, explica Olena Lavruk, gestora do site.
Muitas destas reportagens são de situações que acontecem numa escala local, mas Anastasia Rudenko tem a visão de expandir a abordagem para temas nacionais, mais abrangentes — por exemplo, como pode ser feito o regresso das pessoas à Ucrânia ou como garantir um sistema de educação flexível que dê resposta à população deslocada dentro do país.
Esse é um dos motivos pelos quais a jornalista criou a Recovery Window, um grupo que reúne meios de comunicação social e organizações da sociedade civil para divulgar as iniciativas que são desenvolvidas pelo país. O grupo foi fundado em Março de 2023 por cinco redacções e dois thinkthanks, e conta actualmente com 80 membros.
(Créditos da fotografia: Imagem de capa de uma das reportagens do jornal Rubryka sobre iniciativas de reconstrução de uma comunidade)