Tópicos para uma estratégia mediática pós pandemia

Há uma tendência global consistente de consolidar as receitas directas dos utentes, sem descartar e descuidar as provenientes da publicidade digital, defende Pepe Cereja no trabalho publicado nos Cuadernos de Periodistas, da Associacion de la Prensa de Madrid.
Segundo autor a aposta na transformação digital ganha uma mudança de escala depois de um acontecimento como a pandemia ter acelerado a queda da circulação e publicidade das versões impressas e a guerra na Ucrânia ter espoletado os preços da tinta e do papel. Diante desse cenário, a aposta na diversificação das fontes de rendimento é uma necessidade comum, independentemente da dimensão do órgão de comunicação, do meio utilizado ou do mercado em que actua.
De acordo com Pepe Cereja, a situação actual é o resultado de um processo de transformação e mudança que remonta ao nascimento da Internet. Depois da tentativa de monitorizar o público por meio da publicidade, o mercado já evoluiu e começa a amadurecer, com a difusão dos paywalls. E, por fim, gradualmente dá lugar a uma estratégia de negócios mais complexa e sofisticada, conhecida como receita de leitores.
Nesse processo evolutivo não existe uma fórmula universal que garanta a sobrevivência económica dos «media». Mas, o autor afirma existirem três pilares indiscutíveis para estabelecer uma estratégia de negócios digitais:
Diversificação - Que consiste em explorar diferentes fontes de rendimento além do perímetro natural do conteúdo tradicional de cada cabeçalho. Quase todos os meios de comunicação têm publicidade e um modelo de assinatura, uma loja de e-commerce, além de apostar na fidelização ou na realização de eventos.
Hibridação - Combinando diferentes formas de rendimento, obtendo novos modelos adaptados a determinados públicos e mercados.
Inovação e adaptação - Com a procura de soluções inovadoras e originais que respondam às necessidades e exigências dos utilizadores. Ao mesmo tempo, devem ter a capacidade de se adaptar e evoluir à medida que os hábitos de consumo mudam na velocidade da tecnologia e do meio ambiente.
Em resumo, os meios mais inovadores, do ponto de vista empresarial, são aqueles que completaram a integração e optimização dos três pilares, tornando-se orientados para o valor acrescentado e que apresentam uma visão mais abrangente do negócio em que o assinante ocupa uma posição central. À luz destes três eixos, observa-se uma tendência mundial na consolidação das receitas diretas dos assinantes, sem descartar as provenientes da publicidade digital.
Perante um ecossistema mutável e dinâmico em que as necessidades de informação dos leitores mudam em função dos acontecimentos atuais, fatores como poder de compra ou sazonalidade, por exemplo, podem modificar a demanda por informação.
Por isso é necessário que as empresas jornalísticas estabeleçam modelos de “product thinking”, com o objectivo de pensar, lançar e validar, de forma rápida, eficiente e barata, produtos e serviços de informação e entretenimento, adaptados a diferentes públicos e que estejam disponíveis em qualquer formato e diferentes dispositivos.
O autor refere ainda que os actuais modelos de assinatura precisam de evoluir. Se objectivo antes era captar os leitores mais comprometidos, agora o grande desafio é atrair, reter e convencer os utilizadores que consomem esporadicamente os conteúdos.
Para alcançar e converter novos públicos, a oferta de pacotes ou agrupamento de produtos e serviços de diferentes «media» é outra tendência que permite agregar uma oferta mais atraente para os assinantes.
Parece claro que a consolidação dos modelos de assinatura não é mais uma opção, mas uma necessidade. Não apenas para a própria sobrevivência das empresas do sector, mas, segundo autor, o que é mais importante, para garantir a liberdade e independência editorial.