Semana do jornalismo encerra com debate
Um debate sobre o papel do jornalismo para a democracia encerrou a 1ª Semana Nacional de Jornalismo, organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro.
Neste evento estiveram presentes várias personalidades e especialistas na área dos media, que reflectiram sobre o comportamento da imprensa brasileira nas disputas políticas e ideológicas que movimentaram o país nos últimos anos, com destaque para o avanço da extrema-direita, as notícias falsas e os actos anti-democráticos.
Tereza Cruvinel, ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação, criticou a actuação dos media nas últimas décadas e defendeu a necessidade de recuperar os fundamentos do jornalismo.
A actual comentadora e colunista num portal brasileiro de notícias e análise política, diz que ainda “não aprendemos a lidar com fake news”. Na sua opinião, para neutralizar as notícias falsas é importante produzir um jornalismo de qualidade, seja pelos media convencionais, ou complementares, sejam independentes ou públicos.
Entretanto, Helena Chagas, ex-ministra da Secretaria de Comunicação Social crê que "o jornalismo actual e o seu papel informativo, tem vindo a ser adulterado e o que tem vindo a predominar são os conteúdos opinativos e partidários, o que provoca o crescimento das ideias extremistas". Sobre a situação que se vive actualmente, considera que a opinião está a ser “cada vez mais valorizada, em detrimento da informação pura e simples. É um jornalismo diferente, é um modelo de negócios diferente”, e diz ainda que não sabe se vai ser possível recuperar o “jornalismo que nós aprendemos a fazer”.
Já o jornalista e escritor Fernando Molica, falou na repercussão que as redes sociais e a segmentação de conteúdos, feita por algoritmos, teve no processo de radicalização política do país. Os algoritmos fazem com que as pessoas recebam apenas notícias sobre um determinado assunto, e “isso, com o tempo, vai gerando uma dificuldade de diálogo que é muito complicada. Porque a imprensa sempre teve essa possibilidade de diálogo. Havia uma discussão e a imprensa participava mais activamente nesse processo de mediação dos eventos”, diz.
A encerrar o debate, Hélio Doyle, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), propôs uma reflexão sobre o que levou parte da sociedade a deixar de acreditar do trabalho jornalístico, para o fazer “com outras formas de comunicação de carácter duvidoso”. Segundo ele, “todos os lados devem ser ouvidos, a pluralidade tem que se manifestar e o jornalismo tem essa obrigação de reflectir a diversidade da sociedade brasileira”.
É essencial, segundo estes oradores, pensar em recriar o papel da imprensa e do jornalismo, como mediadores da sociedade, com honestidade em relação aos factos, onde falem para todos os grupos sociais, e pensar, também, na importância do seu papel para combater golpes de estado, “garantir a democracia e as eleições”.
Perante este cenário, Hélio Doyle enfatizou a importância deste e de outros eventos idênticos porque, na sua opinião “todo o debate é positivo” e “fundamental” para trabalhar diante desta realidade.