Revitalizar com o “IA” o jornalismo local

Uma pesquisa da World Association of News Publishers (WAN-IFRA) constatou que várias redacções, nos media, já estão a implantar a Inteligência Artificial (AI) generativa - das 101 inquiridas, 54% já utilizam esta ferramenta na criação de textos. Os especialistas em jornalismo regional parecem optimistas e consideram que a IA generativa poderá ajudar no seu trabalho.
De facto, vários editores de notícias regionais do Reino Unido, por exemplo, já perceberam que as notícias geradas por IA podem libertar os jornalistas para que se concentrem em reportagens mais significativas.
Duncan Williams, director administrativo e proprietário do Pulman's Weekly News, diz que “a IA traz grandes vantagens para ajudar os jornalistas, principalmente no sector regional, mas ainda não está ao nível de ser capaz de escrever histórias com maiores e importantes detalhes”. Na sua opinião, as histórias mais aprofundadas produzidas por jornalistas humanos terão, por isso, maior significado.
Joy Jenkins, professora assistente de Jornalismo na Universidade do Tennessee, é da mesma opinião e afirma que “a IA pode ser usada em tipos mais básicos de reportagem, a fim de libertar os jornalistas para fazer os tipos de histórias mais aprofundadas que gostariam de fazer, mas que nem sempre têm tempo e recursos para produzir.”
Em consequência disso, Eliz Mizon, redactora e líder de comunicações da Bristol Cable, acredita que a IA pode ajudar os jornalistas locais a desempenhar importantes funções de “responsabilidade institucional e coesão da comunidade”, e reverter uma tendência que levou ao fecho de cerca de 300 títulos, desde 2005, e deixou outros em suspenso, ou por um fio.
Uma preocupação recorrente que surge nas discussões sobre IA e notícias é se a tecnologia acabará a substituir os jornalistas, principalmente à luz dos ventos económicos contrários que encorajaram muitos editores a demitir os seus colaboradores no ano passado.
“Um equívoco comum no discurso público, é a noção de que a IA, está prestes a suplantar os jornalistas humanos, como uma força malévola, numa tentativa implacável de cortar custos”, diz Jody Doherty-Cove, editor de projectos especiais da Newsquest.
“O jornalismo local é um ofício que requer investigação, construção de relacionamento e compreensão diferenciada – elementos que nenhuma máquina, por mais sofisticada que seja, pode realmente replicar”, acrescenta.
Ademais, a IA pode diminuir a barreira de entrada no sector, tornando a qualidade e a consistência mais acessíveis.
“Se encontrarmos uma história, reunimos os factos, fazemos uma frase curta e depois trazemos para o software de IA, que produz um artigo de três a quatro parágrafos, revemos e publicamos”, disse ele. “Todo o processo leva cerca de dez minutos”, ilustra Kallum Gethins, director da Dorset News e editor da View From Weymouth, que já adoptaram a IA.
Além disso, a automação pode, também, ampliar os resultados das campanhas publicitárias e ajudar a integrar os jornais locais de forma mais completa nas redes sociais, algo que, explicou Jenkins, tem sido uma luta para muitas publicações.
No entanto, ainda existem desafios a superar para que a IA possa seja totalmente integrada no jornalismo de uma forma ética e prática.
“Devemos garantir que o conteúdo gerado por IA não escape dos olhos atentos dos editores humanos que, com supervisão humana e verificação rigorosa de factos, possam garantir que o conteúdo gerado por IA atende aos seus requisitos”, refere Doherty-Cove.
Por outro lado, chatbots como o ChatGPT dependem do que o utilizador insere, pois, os dados com os quais foram treinados estão, em alguns casos, desactualizados. Isso significa que a estrutura fundamental de recolha de notícias que leva a uma história completa está, de momento, fora do alcance dos programas generativos de IA.