Redacção do “Parisien” reivindica independência
Os jornalistas do Les Echos-Le Parisien (propriedade da Agache, holding de Bernard Arnault), temem pela sua independência e mostram-se preocupados com a perda da neutralidade política que o jornal sempre reivindicou, face ao seu accionista, o grupo LVMH.
A questão surge depois de, numa assembleia geral, mais de uma centena de jornalistas expressarem as suas reservas num frente-a-frente com Nicolas Charbonneau, director do jornal, desde setembro de 2022.
Planeada para durar vários dias, esta assembleia geral destinava-se, inicialmente, à renovação do mandato da Associação de Jornalistas do jornal. Mas, um comunicado de imprensa interno enviado na véspera, surgiu, lamentando, "um tratamento tido como partidário, senão orientado", acerca do tema sobre a contestação geral às alterações sobre as reformas, "num jornal tradicionalmente respeitado por todas as sensibilidades republicanas e democráticas".
No final de uma reunião de três horas, que contou com, pelo menos, 120 jornalistas, presencialmente e à distância, foi redigido outro texto, relatando a “grande preocupação” da redacção.
“Os jornalistas testemunharam, aqui, que lhes foi explicitamente pedido para não trabalharem em certas investigações”, diz o colectivo da redacção.
De referir que, numa altura em que Nicolas Charbonneau atestou que não havia recebido nenhuma instrução do accionista, o jornalista de investigação, Jean-Michel Décugis, insurgiu-se e protestou.
Segundo vários participantes nesta assembleia, foi pedido, ao jornalista, para interromper uma investigação quando o nome de Vincent Bolloré surgiu. “Ter-lhe-ia sido sugerido que o nosso accionista estava em negociações com Bolloré para comprar títulos de media”, explica um jornalista, sob a condição de anonimato. “Jean-Michel não queria espalhar a história até então”, acrescenta outro. “Ele falou porque não queria que mais investigações ficassem presas", refere.
No Parisien, esta história suscitou mais atenção, numa altura em que a redacção vizinha do Les Echos, acaba de ver o seu editor chefe, Nicolas Barré, ser demitido. Os jornalistas deste diário económico aperceberam-se que certos artigos, incluindo uma resenha sobre a “História de um ogre”, o livro que Erik Orsenna dedica a Vincent Bolloré, teriam desagradado a Bernard Arnault, o CEO da LVMH.