O número de influenciadores digitais está a aumentar exponencialmente. O fenómeno obriga a repensar a forma como a informação é partilhada entre os cidadãos.

Perante esta realidade, Carlos Castilho, na sua mais recente reflexão no Observatório da Imprensa, com o qual o Clube Português de Imprensa mantém uma relação de parceria, discute um novo dilema para o jornalismo: “enfrentar os influenciadores ou ajudar as pessoas a lidarem com o caos informativo”.

Influenciadores digitais são indivíduos que usam a Internet, particularmente as redes sociais, para “ganhar fama” e fazer “publicidade própria e de empresas” e produtos.

“Aquilo que há pouco mais de cinco anos era um passatempo de jovens procurando visibilidade na internet, tornou-se agora um negócio multibilionário e uma actividade que começa a mudar os fluxos de notícias nas redes sociais, o que inevitavelmente acabará afectando a forma como lidamos com a informação”, começa por dizer o jornalista.

A dimensão do fenómeno: Alguns números

Se, em 2018, se estimava que o número de influenciadores digitais rondasse os 100 milhões em todo o mundo, algumas estatísticas apontam para que este número tenha atingido os 1,5 mil milhões em 2023.

Só na rede social Instagram existirão 64 milhões influenciadores em todo mundo, de acordo com os dados do site TrendHero, citado por Carlos Castilho.

No mundo do marketing, a presença dos influenciadores quase quadruplicou nos últimos cinco anos, passando de cerca de 6,5 mil milhões de dólares (cerca de 6 mil milhões de euros), em 2019, para 24 mil milhões (mais de 22 mil milhões de euros), esperados no final deste ano, segundo o site Statista.

No Brasil, a empresa BuzzMonitor diz ter um milhão de influenciadores digitais registados, recomendando profissionais a empresas que procuram fazer marketing através destas pessoas.

O país parece até ser o recordista em número de “influenciadores identificados como tal”, com 5,4 milhões de pessoas, à frente dos EUA (4,7 milhões) e da Índia (2,3 milhões), compara o autor do artigo.

Não se trata apenas da “substituição de um meio por outro”

“A multiplicação caótica de influenciadores torna-se cada vez mais visível nas redes sociais virtuais”, descreve Carlos Castilho, de forma que “já configura um novo desafio para o jornalismo, bem como para outras áreas do conhecimento humano como política, justiça, economia e educação”.

A “redução do espaço ocupado pela imprensa nos ecossistemas informativos mundiais e o gradual aumento da participação dos influenciadores no condicionamento da opinião pública” é um “processo complexo” que não “envolve apenas a substituição de um meio por outro”.

As informações partilhadas por estes actores e as recomendações feitas por eles “estão condicionadas por interesses e experiências pessoais”. Além disso, a “participação na produção de conhecimentos e de capital social está [a ser] atropelada pela tendência de usar a informação como trampolim para o enriquecimento”.

Não se trata, portanto, apenas de uma “perda de protagonismo na agenda pública de debates” ou do “agravamento da migração da publicidade para o espaço digital fora do controle dos grandes impérios da comunicação convencional”.

O crescimento acelerado de influenciadores “impõe a necessidade de identificar e sugerir soluções para a desorientação causada pela avalanche de informações em redes sociais”.

Concluindo, este é mais um fenómeno da actualidade que desafia a profissão a repensar os seus “comportamentos, regras e valores”,  sendo o jornalista cada vez mais relevante na sua função de “curador de notícias”, ou seja, de “profissional capaz de servir de referência na escolha da informação mais confiável”, como Carlos Castilho já defendeu noutra reflexão.

(Créditos da fotografia: dlxmedia.hu, no Unsplash)