É sabido que as notícias de última hora e as chamadas “hard news” precisam de ser publicadas com alguma celeridade. No entanto, no contexto noticioso actual, a competição para ser o primeiro a lançar uma notícia online aumenta muito a probabilidade de cometer erros e de partilhar informações que não são verificadas ou confirmadas.

Num artigo publicado no site da International Journalists’ Network (IJNET), o jornalista brasileiro Maurício Ferro explora as vantagens do chamado “slow journalism” (jornalismo lento).

“O excesso de informações — mesmo confiáveis — causa sobrecarga na audiência e até dificulta a compreensão das notícias”, começa por explicar.

Para contrariar esta aceleração do ciclo noticioso e recuperar a pertinência e utilidade daquilo que é publicado, vários meios têm-se dedicado “a parar, respirar e analisar o contexto das notícias”.

“Publicam menos, mas com mais qualidade”, além de explicarem melhor a actualidade, o que “ajuda a audiência a entender melhor o que acontece”, descreve o jornalista.

Uma referência conhecida do slow journalism é o britânico Tortoise (“tartaruga”). Como se lê na apresentação do projecto, "o problema não são apenas as notícias falsas ou as notícias inúteis”, a questão “é que há muitas, e muitas são iguais”. “Muitas redacções estão a ir atrás das notícias e, ainda assim, a perder a história", consideram os criadores do Tortoise.

O Correio Sabiá, organização noticiosa do Brasil fundada pelo autor do artigo, está também a investir num jornalismo mais lento, incluindo com a criação de um canal no YouTube, em que serão publicadas reportagens mais longas.

Algumas vantagens do “jornalismo lento”

  • Melhora a compreensão das notícias

O público fica não só a conhecer os factos e os dados, mas também a perceber o contexto das notícias, por que motivo os acontecimentos são relevantes e como podem ser úteis para informar as decisões do dia-a-dia.

  • Contribui para reaproximar o público do jornalismo

Muitas vezes, o “jornalismo lento” está associado à realização de encontros, debates, workshops, em que jornalistas e público interagem de forma próxima, estimulando a criação de um sentido de comunidade entre todos.

O Tortoise, por exemplo, organiza debates com os seus leitores sobre temas específicos.

“Há vários benefícios associados a essa prática: aprofundamento do conhecimento das duas partes, melhor produção jornalística (focada nas reais necessidades da audiência) e construção de confiança”, aponta o artigo.

  • Potencia o aumento de receitas

Quando as pessoas se sentem mais próximas dos meios de comunicação social, eventualmente até fazendo “parte do processo de construção jornalística”, aumenta a probabilidade de se sentirem representadas e de quererem continuar a acompanhar as notícias naquele meio.

Este é um dos factores que contribuem para que os leitores se tornem assinantes e partilhem mais os trabalhos publicados, como explica um artigo do Nieman Lab.

  • Menos erros, mais confiança

“Nos últimos anos, houve apropriação política do termo ‘fake news’”. Apesar de os erros jornalísticos e as fake news serem realidades distintas — as segundas são notícias propositadamente falsas, criadas para desinformar —, o público pode ter dificuldade em “distinguir uma coisa da outra”.

Quanto mais rápido as notícias são publicadas, maior a probabilidade de os jornalistas deixarem passar informação com erros. Este ciclo contribui para que o público confunda esses conteúdos com fake news e perca a confiança no trabalho dos jornalistas.

(Créditos da fotografia: Andrew Neel no Unsplash)