Como “sociedade global”, ainda não fizemos uma actualização dos princípios do jornalismo para a era digital. E é agora o momento de o fazermos, defende Amy Mitchell, directora executiva e fundadora do Center for News, Technology & Innovation, num artigo de opinião publicado na Poynter.

Embora já tenha sido avançado algum trabalho quanto à literacia mediática digital, moderação de conteúdos online e construção de novas formas de conexão com o público, ainda está muito por fazer para garantir que as políticas criadas a par do desenvolvimento da inteligência artificial (IA) reforçam o papel e a confiança no jornalismo, afirma a autora do texto.

Nesse sentido, Amy Mitchell acredita que “os líderes da indústria mediática precisam de assumir a responsabilidade de pensar sobre como se irão aplicar os princípios da verificação, autenticidade e transparência” num contexto noticioso dominado pela IA, desde a cobertura dos acontecimentos até à forma como as notícias são publicadas e, depois, consumidas.

A autora lança, por isso, algumas perguntas de reflexão e deixa pistas para a “reformulação” dos princípios do jornalismo nesta nova era.

“Como é feita a verificação de dados actualmente?”, “Que tipos e níveis de autenticidade são mais valorizados pelo público?”, “Que transparência precisam os jornalistas de garantir por parte das empresas tecnológicas para poderem fazer o seu trabalho de forma responsável?”

Para Amy Mitchell, os jornalistas devem liderar a definição das respostas a estas perguntas, o que implica que os profissionais…

  • … desenvolvam “maneiras de tirar partido destas ferramentas” na produção de notícias e saibam explicar muito bem de que forma as ferramentas foram usadas nos trabalhos publicados.
  • … trabalhem com os especialistas em tecnologia para garantir que a estrutura dos modelos de IA — “bem como outras formas de algoritmo” — respeitam os princípios jornalísticos.
  • … “ensinem o público a aplicar esses princípios” na sua própria experiência de contacto com as notícias, para saberem diferenciar o conteúdo a que têm acesso.
  • … encabecem as dicussões sobre que políticas podem ser criadas para proteger o sector.

Além disso, “as empresas tecnológicas também têm um papel importante aqui”, afirma Amy Mitchell. É preciso que estas empresas respeitem os limites das áreas de trabalho próprias dos jornalistas e sejam transparentes na criação dos modelos de IA e outras ferramentas, “para que os repórteres possam confiar nos resultados” produzidos por esses instrumentos e partilhar essa transparência com o público.

Finalmente, surge a questão da regulação governamental, um campo em que é preciso encontrar soluções que assegurem que o sector consegue beneficiar das inovações tecnológicas, sem que fique exposto a riscos ou seja posta em causa a independência da imprensa e a protecção dos direitos civis.

A proposta de trabalho explanada no artigo é precisamente a missão do Center for News, Technology & Innovation, centro de investigação independente dirigido pela autora e de que fazem parte nomes de referência no jornalismo como Maria Ressa, Prémio Nobel da Paz em 2021, ou Marty Baron, ex-editor-chefe do Washington Post e editor do Boston Globe no momento em que foi publicada a investigação que expôs o sistema de abusos sexuais de crianças por elementos da Igreja Católica.

(Créditos da imagem: Thomas Schmidt (NetAction), Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)